Marcello Antony e Claudio Fontana estreiam ‘Macbeth’

A tragédia vem rondando o diretor mineiro Gabriel Villela nos últimos tempos. Até o início do ano, era a grega, em sua montagem de “Hécuba”, de Eurípides, estrelada pela atriz Walderez de Barros. Agora, a partir de sexta-feira, a shakespeariana “Macbeth” toma conta do palco do Teatro Vivo sob seu comando e com elenco encabeçado pelos atores Marcello Antony e Claudio Fontana.

Antony interpreta o general que dá título à peça do bardo inglês e que mata indiscriminadamente para se tornar rei na Escócia medieval. Fontana faz a mulher do militar, a ambiciosa Lady Macbeth, que influencia o companheiro na luta pelo poder para alcançar seu objetivo de chegar ao trono como rainha. Assim como eram encenadas as peças de William Shakespeare à sua época, os papéis femininos da montagem são interpretados por homens.

Já em “Hécuba”, Villela queria um elenco apenas masculino. Mas seu compromisso de trabalhar com Walderez o fez mudar de ideia. “Shakespeare não era misógino, e muito menos o Eurípides. Eram tempos em que a mulher podia dizer três coisas: ‘xô, galinha’, ‘para dentro, criança’ e ‘sim, senhor'”, brinca o diretor. “Convocar essa energia masculina para cena, de uma certa maneira, evoca uma coisa tribal, arqueológica, no sentido de voltar lá atrás, antes da civilização, e pegar emprestado dos mitos essa energia de guerra, de briga, de rinha de galo, de macho, de delimitação territorial”, explica ele.

Antony já havia trabalhado com Villela em outro clássico, “Vestido de Noiva”, de Nelson Rodrigues, e conta que, a princípio, o convite foi para fazer Lady Macbeth. Depois de mudanças no elenco, ele assumiu o papel do sanguinário tirano assassino. “Sempre falo que quem for assistir vai ver o meu Macbeth. É um personagem que já foi interpretado por vários atores, consagrados ou não, então não existe um padrão. Vão gostar ou não vão gostar, mas ele está ali, de coração para todo mundo que for assistir.”

Para compor Lady Macbeth e entender sua loucura, Fontana, também produtor da peça, recorreu à obra do psicanalista Sigmund Freud, especialmente ao estudo “Arruinados pelo Êxito”. “Ela é maldosa, persuasiva, ambiciosa. Não tem a culpa cristã a que a gente está acostumado na sociedade moderna”, diz o ator, que sob orientação da direção e da equipe de preparação, não se preocupou em personificar uma figura feminina realista. “Não criei uma voz feminina, não há um corpo feminino. A maldade e a ambição independem de sexo, então, me sinto completamente confortável de fazer a personagem.”

Com tradução de Marcos Daud, a adaptação de Villela reduziu a oito os 22 personagens do texto original. Incluiu a figura do narrador, que conta a fábula, convoca algumas cenas e redimensiona a história para a plateia. “Para ser realista, muitas vezes, você não pode fazer uma montagem realista, tem de fundir personagens, concentrar ideias e trabalhar com supressão”, diz o diretor. Também estão no elenco Marco Antônio Pâmio, Carlos Morelli, Helio Cicero, José Rosa, Marco Furlan e Rogério Brito. As informações são do Jornal da Tarde.

MACBETH

Teatro Vivo (Av. Doutor Chucri Zaidan, 860, Vila Olímpia). Tel. (011) 7420-1520. De 1.º junho a 22 de julho. Sexta-feira, às 21h30; sábado, às 21h, e domingo, às 19h. Ingressos: R$ 50 (sexta e domingo) e R$ 70 (sábado). 12 anos.

Voltar ao topo