Maracatus revigoram tradição religiosa na folia de Pernambuco

Com o carnaval nas ruas desde sexta-feira (13), quando a festa no Fortim do Queijo abriu oficialmente em Olinda a folia pernambucana, a cidade histórica assistiu à quinta edição da Noite Para os Tambores Silenciosos, anteontem. De caráter religioso, os maracatus de baque virado – ou maracatus nação – reverenciaram seus antepassados e pediram proteção e paz. Com orquestras de instrumentos de percussão, os maracatus evocaram a coroação dos reis do Congo – tradição desde a primeira metade do século 19.

Dez nações de maracatu participaram do encontro. Na Ladeira dos Quatro Cantos, os grupos se apresentaram e, em seguida, partiram em cortejo até a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Bonsucesso, onde, às 23h30, entoaram loas em iorubá – língua africana utilizada no candomblé – e fizeram rufar cerca de 400 tambores. Houve queima de fogos. À meia-noite, o evento foi encerrado. “Meia-noite é hora sagrada, não nos é mais permitido continuar a celebração”, disse a historiadora e membro da coordenação do encontro Aneide Santana. “É a mística da religião.”

O mestre Jaílson Viana Chacon, da Nação Porto Rico do Recife, fundada em 1916, definiu o maracatu de baque virado como “um candomblé de rua”. “Muita gente vê como um brinquedo, uma manifestação popular, mas o maracatu é mais que isso.” Presidente e rainha dessa nação, Elda Ivo Viana, de 68 anos, afirmou orgulhosa ter sido coroada em 1979, em uma cerimônia na Igreja do Rosário dos Pretos, no Recife, por um cônego católico. Ao seu lado, numa demonstração de vigor da tradição, estava a jovem rainha da Estrela Brilhante de Igarassu, do município da zona da mata, Rafaela Santana Batista, de 18 anos. O grupo é um dos mais antigos em atuação.

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