Mansur Guérios: dicionário de nomes (estranhos ou ridículos) e sobrenomes (sérios e ilustres)

Está perto o centenário de nascimento de uma das personalidades mais ilustres da cultura paranaense: Rosário Farani Mansur Guérios (1907?1984).

Filólogo, dicionarista, lexicógrafo, gramático, autor de duas dezenas de livros didáticos sobre matérias de sua especialidade, foi sobretudo um professor de alto coturno, em dois níveis: o secundário e o superior. Inclusive, tive o privilégio de tê-lo como professor de português, no curso científico, em meados dos anos 50, no Colégio Estadual do Paraná, que era então, como continua sendo até hoje, um dos mais importantes estabelecimentos de ensino do Brasil.

Além das suas aulas magistrais, muito aprendi com suas excelentes antologias referentes às duas principais literaturas do nosso condomínio lingüístico: a portuguesa e a brasileira.

Mais tarde, nos anos 70s e 80s, tive a honra de gozar de sua amizade. Por mais de uma vez me recebeu em sua acolhedora casa da rua Chile, para saborosas e enriquecedoras conversas sobre temas de nosso particular interesse, como Língua e Literatura. Evoco com saudade esses anos de ouro.

Curiosa e coincidentemente, acabei de reler a terceira edição, revista e aumentada (de 1981) de um dos livros mais interessantes e significativos do professor Mansur Guérios: Dicionário etimológico de nomes e sobrenomes, cuja primeira edição é de 1947. É uma obra esgotada há anos e que está exigindo, sem demora, uma reedição. Esta poderia muito bem ser promovida pela Secretaria de Estado da Cultura, no próximo ano, comemorando condignamente uma efeméride marcante: o centenário de nascimento do grande mestre da nossa língua. É uma sugestão que aqui deixo consignada. Na longa e erudita introdução do dicionário, que o autor considera imprescindível para a leitura sistemática ou para a consulta eventual da obra, Mansur Guérios tem oportunidade de arrolar uma série de nomes realmente engraçados, estranhos, hilariantes, ridículos ou simplesmente curiosos.

Aí vão, a título de exemplificação, alguns deles, que o dicionarista colheu em jornais e revistas da época, que por sua vez se basearam em listas de eleitores de vários estados brasileiros. Ei-los, parcialmente citados: Antônio Dodói, Antero Americano do Brasil Mineiro, Abrilina Décima Nona Caçapava Piratininga de Almeida, Amada Sempre, Águas Marinhas Gomes, Alarme José, Antônio Morrendo das Dores, Argentina América do Brasil, Abecê Nogueira, Barrigudinha Seleida, Cafiaspirina Cruz, Celeste Batata, Catarina Goiânia de Goiás, Crepúsculo das Dores, Delícia Leal, Dourado Peitudo, Eclesiaste Cardeal da Costa, Epílogo dos Santos, Gilete de Castro, Holofotina da Silva, Isabel Ignorada Campos, Inocêncio Coitadinho Sossegado de Oliveira, Joaquim Sherlock Holmes da Silva, João Cólica, José Casou de Calças Curtas, José Salamargo (não confundir com o Prêmio Nobel luso José Saramago…), Liberdade Igualdade Fraternidade Narbona, Lembrança de Aliás, Missa Milagre Efigênio, Maternidade da Silva, Natal Criança de Castro, Oceano Pacífico do Atlântico, Padre Bispo Cardeal, Raimundo Papa Leão Treze, Terezinha Tosse e, ?last but not least?, o conhecidíssimo Um Dois Três de Oliveira Quatro…

Do dicionário propriamente dito constam mais de cinco centenas de sobrenomes portugueses, que acabaram por tornar-se também brasileiros, trazidos pelos milhões de portugueses que, desde 1500, vieram para o Brasil para colonizá-lo e, sobretudo, povoá-lo.

Misturando-se, desde a primeira hora, com os ameríndios e, mais tarde, com africanos e outros europeus, os nossos avós realizaram aquilo que Gilberto Freyre considerou o ?milagre da miscigenação?.

Dos mais de quinhentos sobrenomes portugueses que se transformaram em verbetes do dicionário mansurgueriano, selecionei cerca de duzentos, que me parecem ser os mais usados no Brasil (como são em Portugal). Aí vão eles, por ordem alfabética: Abrantes, Abreu, Aguiar, Albuquerque, Alencar, Almeida, Álvares, Alves, Amado, Amaral, Amorim, Andrade, Antunes, Araújo, Arruda, Ataíde, Azeredo, Azevedo, Bandeira, Barbosa, Barreto, Barros, Barroso, Bastos, Ba(p)tista, Beltrão, Bentes, Bezerra, Borba, Borges, Botelho, Braga, Branco, Brandão, Brito, Cabral, Caldas, Caldeira, Câmara, Campos, Cardoso, Carneiro, Carvalho, Castelo Branco, Castilho, Castro, Cerqueira, Chaves, Coelho, Coimbra, Cordeiro, Correia, Costa, Couto, Coutinho, Cruz, Cunha, Dantas, Delgado, Dias, Duarte, Dutra, Esteves, Fagundes, Falcão, Fernandes, Ferraz, Ferreira, Figueiredo, Fonseca, Fontes, Fontoura, França, Franco, Freire, Freitas, Furtado, Galvão, Gama, Garcia, Gaspar, Gomes, Gonçalves, Guimarães, Jardim, Jobim, Junqueira, Lacerda, Leal, Leão, Leitão, Leite, Lemos, Lima, Linhares, Lisboa, Lobo, Lopes, Loureiro, Lourenço, Macedo, Maciel, Machado, Maia, Magalhães, Marques, Martins, Mascarenhas, Matias, Matos, Medeiros, Meireles, Meira, Melo, Mendes, Mendonça, Menezes, Mesquita, Miranda, Monteiro, Morais, Moreira, Mota, Moura, Mourão, Nascimento, Negrão, Neves, Nogueira, Noronha, Novais, Nunes, Oliveira, Osório, Pacheco, Paiva, Passos, Pedroso, Peixoto, Pereira, Peres, Pessoa, Pestana, Pimenta, Pimentel, Pinheiro, Pinto, Pires, Pontes, Portela, Porto, Portugal, Prado, Quadros, Queiroz, Rebelo, Ramos, Reis, Resende, Ribas, Ribeiro, Rocha, Rodrigues, Rosa, Roseira, Sá, Saldanha, Salgado, Sampaio, Santos, Saraiva, Sarmento, Seabra, Sena, Sequeira, Serpa, Serra, Silva, Silveira, Simões, Soares, Sousa, Taborda, Tavares, Távora, Teixeira, Teles, Torres, Tourinho, Valadão, Valadares, Vale, Varela, Vargas, Vaz, Veiga, Veloso, Veríssimo, Viana, Vieira, Vilela, Vilas-Boas, Vilalobos, etc.

Os mais freqüentes, tanto no Brasil como em Portugal, são os seguintes: Silva, Santos, Pereira, Sousa, Oliveira, Lima e Ferreira.

O precioso dicionário de Mansur Guérios não se limita a arrolar todos esses sobrenomes. Vai mais longe: fornece a raiz, a origem e a etimologia de cada um deles. O que torna esse dicionário uma obra fundamental. Por isso mesmo, a sua reedição se impõe.

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