Manifesto esquenta polêmica

Fortaleza 

– Polêmica no palco e na tela na primeira noite de competição do 13.º Cine Ceará. No palco o diretor do festival, o cineasta Wolney de Oliveira, leu manifesto assinado por mais de 50 diretores e produtores brasileiros no qual se diz que “o grupo de cineastas que se reuniu no Rio de Janeiro no dia 6 com os ministros Gilberto Gil e Luiz Gushiken não fala em nome da totalidade dos cineastas, ao contrário do que se veiculou na mídia”.

No palco do Cine São Luiz, sede do festival que termina terça-feira, Oliveira foi didático ao informar a platéia sobre essa primeira nota dissonante ao coro afinado de cineastas que acusou o governo de estar planejando um “dirigismo cultural” para sua política de incentivos. O documento observa que essa expressão tem sido usada como cortina de fumaça para ocultar o que realmente deveria ser discutido: a transparência na concessão de recursos das estatais para a cultura.

Os signatários do manifesto são a favor de uma contrapartida social por parte de quem é financiado por recursos públicos, contrariando a tese de que “a contrapartida social da obra é a própria obra”. Pede, além do mais, transparência e descentralização no acesso aos patrocínios culturais.

O texto é assinado por nomes bem conhecidos do cinema brasileiro, como Nelson Pereira dos Santos, Eduardo Coutinho, Walter Lima Jr., Vladimir Carvalho, Eduardo Escorel, Cláudio Assis, Laís Bodanzky, Fernando Meirelles, Helvécio Ratton, Beto Brant, Paulo Halm, José Roberto Torero, André Klotzel e o paranaense Lucas Amberg, entre outros. Trata-se de parcela significativa da classe cinematográfica brasileira, que inclui de nomes consagrados, de trânsito internacional, a jovens que estão fazendo o cinema mais vigoroso do País atualmente.

Esse “racha” na classe cinematográfica ainda vai dar o que falar. O manifesto dos dissidentes foi considerado por uma atriz integrante do grupo que se reuniu com os ministros na última terça como “um tiro no pé” da classe. Porém, o que essa dissidência procura restabelecer é a possibilidade de discutir a origem, a destinação e a finalidade dos recursos públicos aplicados à cultura. E agora, talvez, sem palavras de ordem alarmistas e vazias de conteúdo – ainda que politicamente muito espertas.

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