Mais uma vez, “Os Simpsons” foi eleito o melhor do ano

Eles são os vizinhos que todo mundo odiaria ter. Mas, se audiência fosse sinônimo de qualidade, o melhor exemplo seria “Os Simpsons”. Considerado pela quarta vez consecutiva como o “Melhor Desenho Animado” da eleição “Melhores & Piores de 2002” por “TV Press”, a série criada por Matt Groening rende ao SBT a excelente média de 14 pontos com picos de 16, entre às 13:15 h e 13:45 h, diariamente. Não raro, “Os Simpsons” empata e até bate o “Jornal Hoje”, da Globo.

Exibido também aos sábados, às 19:10 h, no SBT, e pelo canal por assinatura Fox na NET e TVA em três horários – 20:30 h, 0 h e 0:30 h -, o desenho da família formada por Homer, Marge, Bart, Lisa e Maggie é o mais visto da tevê brasileira. Em sua 13.ª temporada, os personagens do desenho conquistaram uma legião de fãs no mundo inteiro graças à maneira sórdida com que encaram os próprios problemas e satirizam a tudo e a todos. Inclusive o “patrão” Rupert Murdoch, dono da Twentieth Century Fox, produtora do desenho.

Quando a série surgiu no início dos anos 90, a maioria das histórias eram baseadas no filho Bart, mas, aos poucos, o pai Homer foi ganhando mais espaço e episódios próprios. Atualmente, de acordo com a própria Fox, ele virou a grande estrela da série. O rotundo personagem, inclusive, vem deixando cada vez mais o jeito amável com a família e se tornando o legítimo anti-herói. Tanto que solta frases que não caberiam na fala de nenhum galã que se preze, como “dobrar minha cueca é trabalho para dois homens, no mínimo”. Ele também é tratado com desprezo pelos próprios filhos no episódio “Arquivo S”, em que encasqueta que viu um extraterrestre. “Este tipo de pessoa geralmente é repelente e possui um emprego enfadonho”, diz a racional Lisa para o pai, que é funcionário relapso de uma usina nuclear da cidade de Springfield.

Sem moral

No entanto, mais do que o patrono Homer, é a convivência familiar dos Simpsons o grande trunfo do desenho. Ao contrário da maioria das produções de animação, “Os Simpsons” não tem nenhuma preocupação em ser educativo ou preservar a moral e os bons costumes. Tanto que, em um episódio em que Bart demora na casinha em cima da árvore no quintal da família, Homer não dá atenção às indagações da esposa sobre o que filho estaria fazendo. “Sei lá, Marge, pode ser drogas, revistas em quadrinhos…”, responde o desencanado chefe de família. Por outro lado, os personagens não deixam de fazer troça com as próprias instituições norte-americanas. O FBI, por exemplo, ganhou o slogan: “FBI, Invadindo Sua Privacidade Há 60 Anos”.

No Brasil

Por isso, é totalmente equivocado reclamar que a família de Homer e Marge teria desrespeitado o Brasil no episódio “Feitiço de Lisa”, que a Fox exibiu no início de dezembro deste ano. Se eles satirizam o próprio país de origem, seria no mínimo incoerente se eles mudassem de estilo ao visitar outras terras, como Canadá, África, Japão e Brasil. Em “Feitiço de Lisa”, os Simpsons viajam ao Brasil para encontrar um órfão que a Lisa estava ajudando a sustentar. Tudo bem que o episódio comete erros grosseiros, como os brasileiros falarem com sotaque espanhol, a Amazônia ser vizinha do Rio e as pessoas andarem em filas pelas ruas cariocas dançando ritmos estranhos. Homer também é seqüestrado por um táxi pirata, há cobras e macacos nas ruas e uma apresentadora infantil loura balança os seios para as câmaras.

Indignado, o presidente da Riotur chegou a ameaçar processar a Fox. A equipe do programa pediu desculpas através de um comunicado. Mas não deixou de provocar. “Se o pedido de desculpa não resolver a questão, Homer Simpson se oferece para lutar com o presidente do Brasil no ?Celebrity Boxing?”, avisaram, numa referência ao programa de tevê americano em que celebridades lutam num ringue. Mas é justamente o fato de exagerar nas ações e opiniões sobre o universo que os cerca é que imprime a marca aos personagens da série. Muitas vezes, inclusive, os comentários contidos nas entrelinhas é que diferenciam “Os Simpsons” de outros desenhos. “O Brasil é a terra dos contrários, onde o ladrão corre atrás da polícia”, reflete o “filosófico” Homer.

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