Mais que um corpinho bonito

Já não é de hoje que as “top models” fizeram uma ponte entre as passarelas e a telinha da tevê. Mas da pura e simples invasão, escorada na beleza física, a tevê se tornou quase uma seqüência natural da profissão de modelo. Hoje, elas estão em várias emissoras interpretando personagens, apresentando programas e fazendo reportagens. Mas, para não cair do salto e borrar o gloss, elas têm de se preparar. E muito. Algumas têm aulas de voz, dicção e postura. Outras, mais exigentes, fazem cursos de interpretação.

A mais nova representante do mundo fashion a enveredar pela tevê, Ana Hickmann, teve até um “intensivão” de português para participar do Tudo a Ver, da Record. “Modelo tem vida curta. Sempre sonhei em apresentar porque posso trabalhar nisso por mais tempo. Agora, só saio da Record no dia em que me chutarem”, brinca Ana, que assinou por dois anos com a emissora.

Modelo da Elite, Pietra Ferrari também não quer desperdiçar a chance que a Band lhe deu de fazer reportagens para o Melhor da Tarde. Mas, antes de sair por aí com o microfone em punho, tratou de fazer um curso de impostação de voz e expressão corporal. Mesmo acostumada a câmaras e flashes, admite que ficou bastante nervosa em sua primeira entrada ao vivo. “No meu primeiro dia, fiz tudo ao vivo e deu tudo certo. Mesmo assim, tremi à beça. O ao vivo é sempre mais difícil de fazer, mas acho que o pior já passou”, avalia ela, que já fez cursos de interpretação com Beto Silveira e Wolf Maya.

Das emissoras que apostam em modelos como repórteres e apresentadoras, a MTV é pioneira. Por lá já passaram, entre outras beldades, Sabrina Parlatore e Fernanda Lima. As “tops” da vez são Daniella Cicarelli e Fernanda Tavares. A diretora de produção da MTV, Cris Lobo, afirma que não tem outro conselho a dar para as modelos senão o de se dedicar integralmente à nova função. “Não dá para a modelo chegar, cumprir tabela e ir embora. Tem de ralar muito. Só assim, elas vão se firmar na nova carreira”, ensina. Entre as VJs mais dedicadas, Cris cita Daniella Cicarelli, que acumula dois programas na casa, Dance o Clip e Daniella no País da MTV. “A gente tem sempre de estar fazendo acontecer. Não dá para pensar que o lugar é seu, está garantido e acabou. A fila nunca pára…”, pondera Daniella Cicarelli, que teve aulas de fonoaudiologia para eliminar um calo das cordas vocais.

Tentando tudo

Mas há modelos que não se contentam apenas em apresentar. Querem também atuar. Luciana Gimenez é uma delas. Decidida a seguir a carreira de atriz, fez testes para o papel de Helena no filme Tróia, de Wolfgang Petersen. Em seguida, mandou uma fita para o diretor Walter Salles, de Central do Brasil e Diários de Motocicleta. Às vésperas de estrear uma “sitcom” na Rede TV!, está tendo aulas com a veterana Bibi Ferreira. “Quero ser atriz. Independentemente de ser um filme de Hollywood ou uma produção nacional, vou fazer cinema. Isso é certo na minha vida!”, garante.

Luciana Gimenez não é a única. Para muitas, a carreira de modelo foi quase um trampolim para a de atriz. Fernanda Lima também pensa assim. Depois que saiu da MTV, a ex-apresentadora do “Mochilão” resolveu tentar o cinema. Já fez pontas em Didi Quer Ser Criança, Cinegibi – O Filme e A Dona da História. Na tevê, declinou de convite para Da Cor do Pecado, da Globo. “Ainda não me sinto segura. Tenho muito o que estudar”, reconhece ela, formada em Jornalismo pela Fiam.

Novatas e veteranas na estrada

A atriz Betty Lago percorreu uma trilha cada vez mais comum para as modelos: trocou as passarelas de moda pelos estúdios de tevê. A estréia aconteceu em 1992, quando foi convidada pelo autor Gilberto Braga para interpretar a Natália da minissérie Anos Rebeldes. “Nunca planejei nada. Até que, um dia, resolvi botar os bichos para fora. De vez em quando, é bacana fazer o mau, o engraçado e assim por diante”, justifica ela, que contabiliza duas minisséries e seis novelas no currículo. Antes de Betty, outras modelos haviam tentado. Algumas conseguiram, como Silvia Pfeiffer, que fez Boca do Lixo, de 1990. Outras ficaram na primeira tentativa, como Luma de Oliveira, que trabalhou em O Outro, de 1987.

Há aquelas, porém, que estão apenas começando. Ex-dubladora do programa Qual é a Música?, Ellen Roche participou da nova fase da malfadada Metamorphoses, da Record. Mesmo que tenha sido uma novela maulsucedida, ela se diz satisfeita por ter sido aprovada nos testes. “Fiquei feliz só de ter feito a novela. Sinal que o meu trabalho foi reconhecido. Só não sei o que esperar da carreira daqui para a frente”, confessa Ellen que, por via das dúvidas, cursa Publicidade em São Paulo.

A exemplo de Ellen, Pietra também já foi chamada para fazer testes. Mais precisamente para Kubanacan e Da Cor do Pecado, da Globo. “Ainda ontem, me chamaram para outro teste e não fui. Prefiro voltar a estudar primeiro”, reconhece Pietra, que planeja se matricular no Célia Helena. Já Maryeva Oliveira, do Sportv, desistiu de ser atriz. Tanto que, há alguns anos, recusou o convite de Ricardo Waddington para Presença de Anita. “Recusei e não me arrependo. Vi alguns testes meus e eles ficaram péssimos”, avalia, taxativa.

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