Luto na “Grande Família”

Rio de Janeiro – O ator Rogério Cardoso, o seu Flô do programa A Grande Família, da Rede Globo, morreu ontem pela manhã de infarto, enquanto dormia, aos 66 anos. Parentes contaram que, embora tivesse problemas no coração e tomasse remédios, ele estava bem de saúde. O corpo será enterrado na cidade paulista de Mococa, sua terra natal.

As complicações cardíacas eram antigas: o ator tinha uma ponte de safena havia nove anos e se submeteu a uma cirurgia para colocação de um stent em fevereiro. A mulher dele, Isabel, que dormia a seu lado, contou que Rogério sentou-se na cama e em seguida tombou sobre seu corpo.

“Na hora, fiquei muito assustada. Não sei direito o que pensar, se acredito que cada um tem sua hora de ir embora”, disse Isabel, de 53 anos, casada com Rogério havia dois anos. “Mas nos conhecíamos há 40 anos. Só não nos casamos antes porque ora eu estava casada com outra pessoa, ora ele”. Rogério deixou três filhos e seis netos.

Isabel lembrou que o marido estava muito feliz: na quarta, recebera a visita de uma irmã e um neto, que vieram de São Paulo e ficaram hospedadas em sua casa. “Ele gravou A Grande Família e voltou para casa, feliz”. O diretor do programa, Maurício Faria, preparou uma homenagem ao ator, que seria exibida ontem à noite, antes do episódio Eu Vou Tirar Você Desse Lugar, que estava gravado há várias semanas. Segundo a produção, há muitos outros também já prontos.

Faria contou que Rogério gravou na quarta-feira uma cena que será exibida em cerca de um mês. “Era uma cena curta, que ele fez rapidamente e foi embora para casa. Estava muito bem. Estamos arrasados”, comentou. “Ainda não sabemos como será daqui para frente. Não conseguimos pensar nisso”.

Bronquite

O diretor contou também que, no início do ano, ele teve uma crise de bronquite – que o levou a cancelar apresentações da peça Três Homens Baixos em São Paulo – mas voltou a trabalhar sem restrições. “Ele era duro na queda, nunca reclamava de nada e a gente não podia imaginar uma coisa dessas”, lamentou Faria, que, antes de A Grande Família, dirigiu-o em um episódio de Brava Gente, O Santo e a Porca. “Estamos muito tristes, eu e toda a equipe do programa. Rogério era um dos melhores comediantes que conheci e foi um enorme prazer ter trabalhado com ele”. Em 1998, Rogério Cardoso recebeu o prêmio de melhor ator de TV da Associação Paulista de Críticos de Arte, pela sua participação em Hilda Furacão. (Colaborou Carolina Iskandarian)

50 anos de boas gargalhadas

São Paulo

– Rogério Cardoso completou 50 anos de carreira no ano passado. Nascido no município de Mococa (SP), ele deu início à vida artística no rádio. Foi em 1958 que o comediante se aventurou pela primeira vez no teatro. Nos palcos, participou de mais de 40 peças – a última foi Três Homens Baixos, na companhia de Flávio Galvão e Jonas Bloch.

O ator chegou em 1963 à televisão, na Excelsior, na qual se destacou no programa humorístico A Cidade se Diverte, fazendo uma dupla caipira com Célia Coutinho. De lá, foi para o humorístico Reapertura, da TVS, atual SBT. Ele gostava de fazer graça para o público. “Com a cara que tenho, dificilmente seria galã de novela”. A popularidade veio com o Rolando Lero da Escolinha do Professor Raimundo, mas o estouro viria com o Salgadinho da novela Explode Coração (1995), em que fazia o marido da atriz Regina Dourado. Atualmente, além de Seu Flô, ele interpretava o Epitáfio de Zorra Total, em que contracenava com a amiga Nair Belo, que faz sua mulher, Santinha. Ele a considerava “uma verdadeira moleca”.

O comediante não fez muito cinema. Marca sua passagem por filmes como Auto da Compadecida, Amor & Cia., Samba Canção, Bossa Nova e pouco mais. Mas se a quantidade não é grande, a qualidade de suas atuações basta para inscrever seu nome na história do cinema brasileiro. Neles, Rogério emprestou verve cômica para construir alguns personagens inesquecíveis, como o padre João de Auto da Compadecida, de Guel Arraes, ou o Neto de Amor & Cia., de Helvécio Ratton. Ele participou ainda do curta-metragem Bala Perdida, de Victor Lopes, ainda inédito. Seu personagem é uma das pessoas que tem a vida profundamente alterada depois de um tiroteio no Rio de Janeiro, resultando em seis balas perdidas.

Teatro

No teatro, chegou a participar de Esperando Godot ao lado de Denise Fraga, mas especializou-se em peças de humor comercial, como A Comédia dos Sexos, Mulher, Melhor Investimento e Mimi, a Odalisca Infiel, com as quais ficava mais de um ano em cartaz.

Também arriscou-se na política: elegeu-se vereador pelo PFL do Rio em 1996, quando fazia sucesso como Salgadinho. Ele chegou a incorporar o nome do personagem à sua imagem política. Na época, ele declarou que era levado a sério pelos eleitores. “As pessoas geralmente tratam os humoristas como membros da família por fazê-las rir”, dizia. Rogério tentou novamente em 2000, mas não conseguiu a reeleição.

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