Lost Zweig é bem recebido em Brasília

Brasília – O drama histórico Lost Zweig, dirigido pelo “catarinense-quase-curitibano” Sylvio Back, foi bem recebido pelo público do Festival de Cinema de Brasília. O drama sólido, de feitio clássico, foi assistido com respeito pelo público e aplaudido no final de forma consistente.

O filme fala da última semana de vida do escritor Stefan Zweig e de sua esposa, Lotte, passada no Brasil. Zweig viera para cá, fugido do nazismo, como outros judeus. Não era sua primeira visita ao Brasil. Estivera antes, em 1936, e da experiência saiu um livro famoso, Brasil, País do Futuro. A segunda visita não foi tão feliz. Chegou ao Brasil durante a ditadura Vargas, ainda indecisa sobre qual dos lados apoiar na guerra que se travava na Europa.

Segundo o filme de Back, Zweig viu-se pressionado pelo governo a escrever um livro encomiástico sobre Santos Dumont, que serviria aos propósitos ufanistas do regime. Em troca, acenavam-lhe com um visto definitivo para permanecer no País. Zweig também batalhava pela concessão de vistos brasileiros para que judeus ameaçados na Europa pudessem encontrar asilo. Nada conseguiu. Essa delonga do regime Vargas custou a vida de milhares de pessoas, como está amplamente documentado pela historiografia.

Outros aspectos do filme suscitaram discussão. Por exemplo, Back promove um encontro entre Stefan Zweig e Orson Welles, que estava no País na mesma época, filmando seu documentário inacabado It’s All True. Lost Zweig é baseado na biografia escrita por Alberto Dines, Morte no Paraíso. No livro, esse encontro não se dá. Back admite que optou por uma adaptação livre: “A melhor maneira de adaptar um livro é traí-lo o máximo possível”, diz. O resto, portanto, é ficção. No entanto uma ficção ancorada em dados da realidade, sempre segundo o diretor. “Vargas queria que Zweig escrevesse um Brasil, País do Futuro 2, e isso está documentado”.

De qualquer forma, algumas das fontes de Back parecem no mínimo muito boas. Há muitos anos Grande Otelo, quando soube que o diretor iria fazer um filme sobre o escritor austríaco, lhe disse que Welles carregava consigo, para toda parte, o livro Brasil, País do Futuro. “Vendo algumas cenas de It’s All True, tive a intuição de que o livro de Zweig era uma das fontes de inspiração para Orson Welles”.

Back pesquisou e descobriu em jornais da época declarações de Welles de que gostaria de fazer uma entrevista com Stefan Zweig, a quem considerava um escritor notável. Depois que Zweig se suicidou, junto com Lotte, Welles voltou a se manifestar pela imprensa, lamentando não ter ido a Petrópolis para entrevistar o escritor.

O resultado desse embate entre ficção e realidade é um drama bastante sólido e bem interpretado por Rüdiger Vogler, no papel de Zweig, e Ruth Rieser, no de Lotte. O ritmo é lento, pausado, mas não linear. Na metade do filme já vemos que Zweig e Lotte se suicidaram em Petrópolis. Depois dessa morte dupla, há mais uma hora ainda por ser vista, no acompanhamento da trajetória de um Zweig atormentado pelas pressões vindas do governo Vargas e pelo desenvolvimento da guerra na Europa, que não parecia nada favorável aos Aliados àquela altura.

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