Longe da aposentadoria, B.B. King faz shows em São Paulo

Aos 84 anos, o rei do blues está muito mais para os figurinos coloridos de show do que para o pijama. Apesar do cansaço provocado pelas viagens, que o faz vez ou outra recorrer a uma cadeira de rodas, para aliviar as pernas, precisa continuar cantando e tocando sua guitarra para se manter, já que não ganhou dinheiro suficiente nas mais de seis décadas de carreira, ele justifica. Será? Pouco importa. O que vale é que, quatro anos depois de passar por aqui para se despedir, B.B. King está de volta para mais uma turnê.

“Nunca achei que viveria o suficiente para voltar para vocês! Gostaria de ter vindo antes. Eu ainda adoro trabalhar. Vou ser um garoto para sempre”, disse na segunda-feira, pouco depois de chegar ao Rio, onde tocaria no dia seguinte. Brincava com o apelido B.B. (blues boy). Hoje, o show é no Bourbon Street; amanhã e sábado, no Via Funchal. Na terça, em Brasília, antes de voar para Buenos Aires. O show do dia 27, no Chile, foi desmarcado por causa do terremoto.

Está aí uma coisa que tira o bom humor de B.B. King: ter de tomar um avião. Ele prefere um bom ônibus, como o superequipado que usa para cruzar seu país. Saudado como o último grande bluesman vivo, ele não cumpre mais a agenda intensa de décadas atrás, quando tinha show quase todo dia. Lamenta que sua música não toque nas rádios, e que não tenha conseguido acumular o bastante para uma velhice mais tranquila.

“Os músicos às vezes ganham pouco dinheiro. Alguns de nós estão de bolsos vazios. Não sou uma moça bonita e o blues não está no topo. As pessoas não ouvem B.B. King, não sabem de B.B. King.” O tom não é de queixa – depois de tantos anos de circulação, de ver tantos guitarristas surgirem e desaparecerem, ele soa resignado. Apesar das dificuldades, acredita na força do blues e no poder de sua lendária guitarra, a qual chama de Lucille. “O blues nunca vai morrer. É como a música clássica, como Beethoven.”

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