Livro reúne principais crônicas de Stanislaw Ponte Preta

O jornalista Sérgio Porto, morto de enfarte aos 45 anos, em 1968, foi o tipo de jornalista à moda antiga. Ele foi cronista, escritor, radialista e compositor. Porto era aquele tipo de jornalista em tempo integral. Se a notícia surgisse de dia, lá estava ele. Se surgisse num feriado do Natal, às 23h59, provavelmente ele também estaria lá. Uma de suas criações foi o concurso de beleza As Certinhas do Lalau, que revelou vedetes como Anilza Leoni, Diana Morel, Rose Rondeli, Maria Pompeo e Irma Alvarez. Cardíaco, não suportou o excesso de trabalho e morreu. Mas, no tempo em que viveu, produziu de forma compulsiva.

No fim dos anos 40, Porto criou um de seus personagens mais famosos, o Stanislaw Ponte Preta, cronista satírico que com o ilustrador Santa Rosa descreveu com maestria e ironia os costumes dos cariocas. Sua visão era tão apurada que até hoje suas críticas soam atuais. Seus principais escritos foram reunidos na obra “O Melhor de Stanislaw Ponte Preta”, relançado recentemente pela editora José Olympio. Os textos foram selecionados pelo crítico Valdemar Cavalcanti. As ilustrações da obra, no entanto, ficaram a cargo de Jaguar.

Sérgio Porto criou personagens antológicos como a Tia Zulmira, o Primo Altamiro, de Rosamundo, do Garoto Linha-Dura e as crônicas do Febeapá (Festival de Besteiras que Assola o País) e Na Terra do Crioulo Doido. Aliás, foi Sérgio Porto que compôs o “Samba do Criolo Doido”. Cada um desses personagens estão representados em capítulos do livro, com cerca de 20 crônicas sobre cada um deles, com destaque para o Febeapá, com dois capítulos.

O Febeapá se notabilizou por publicar notas jornalísticas falsas, como se fossem sérias. O objetivo era criticar os militares. Ele chegou a criticar, inclusive, a sigla dos Atos Institucionais, (AI), como onomatopeia de dor. No capítulo do Febeapá, foram selecionadas crônicas como a que fala do Batalha, um rapaz tão feio, mas tão feio, que Stanislaw acreditava que um dia ele poderia chegar a Presidente da República. Justamente por ser feio, Batalha aprendeu a apreciar as mulheres de longe.

Outro antológico personagem de Stanislaw foi a tia Zulmira. Em um impagável perfil sobre a tia, Stanislaw revela que esta sábia senhora foi batizada pela própria Princesa Isabel (aquela que anos depois virou uma nota de 50 cruzeiros). No mesmo perfil, ele entrega que a velha dama gostava de beber um “Fidel Castro” com gelo (Cuba Libre sem Coca-Cola). O capítulo dedicado a Rosamundo das Mercês é, igualmente, impagável. Stanislaw conta na biografia de Rosamundo que ele era muito esquecido, citando como exemplo o fato dele ter nascido de dez meses. Ele era um rapaz incomum, já que nasceu em 1922, ano do Centenário da Independência e ano em que o América F.C. foi campeão. De fato, um ano incomum. “O Melhor de Stanislaw Ponte Preta” é um daqueles livros para lembrar de uma época no Rio de Janeiro em que a palavra malandro não significava vagabundo e onde se podia curtir a boêmia sem se preocupar com a violência. As informações são do Jornal da Tarde.