mais-pop

Lee Ranaldo volta a São Paulo para apresentação acústica

Lee Ranaldo sabia que aquela apresentação seria a última do Sonic Youth em muito tempo. “Só não imaginava que seria a derradeira, mesmo”, diz o guitarrista que, de 1981 até 2011, integrou o grupo que gostava de classificar o seu som como no wave (ou “sem onda”), numa resposta ruidosa ao new wave. Em uma arena montada no meio do nada, em Paulínia, no interior de São Paulo, num fim de tarde molhado por uma garoa chata, o Sonic Youth soltou seu último acorde. As guitarras, largadas sobre os amplificadores, zuniam uma microfonia chata por alguns minutos até que tudo fosse desligado. Sobrou o silêncio só interrompido pelo gotejar nas capas de chuva.

Com o fim do longo relacionamento entre Kim Gordon (baixo e voz) e Thurston Moore (guitarra e voz), foi colocado o ponto final no Sonic Youth também. “Quando estávamos no palco (o fim da banda) não passava pela minha cabeça. Estávamos fazendo ótimos shows naquela turnê latino-americana”, diz Lee Ranaldo, de Nova York. “De qualquer forma, quando saímos em turnê daquela vez, eu já estava finalizando um disco solo. Então, quando dissemos que pararíamos, eu já estava com isso engatilhado.”

Em 2012, Lee Ranaldo lançou o bom Between the Times and the Tides. E, no ano seguinte, fundou a banda The Dust, com a qual experimentava desligar a distorção da guitarra e se aventurava pelo violão. Com o grupo, publicou Last Night on Earth (2013) e Acoustic Dust (2014). Sob a diretriz acústica, com canções introspectivas e de amor, o mestre do ruído – eleito um dos cem maiores guitarristas da história pela revista norte-americana Rolling Stone – volta a São Paulo.

Lee Ranaldo se apresenta no formato voz e violão nas noites deste sábado, 10, e domingo, 11, às 21h e 18h, respectivamente, no Sesc Belenzinho. “É um show desafiante”, ele avalia. “Estar no palco, sozinho, munido de um violão e da sua voz. Não há ninguém para conversar. E não há também outro barulho que esconda alguma imperfeição. Mas acho que isso deixa tudo mais interessante.”

Ranaldo experimentou o formato há alguns meses, em Nova York, e partiu para aproveitar a temporada de festivais de música no verão europeu. “Tenho me interessado por essa ideia de criar esse clima intimista com o público, que assiste aos shows sentado. Parece-me ser uma experiência mais íntima, mesmo. As coisas estão funcionando.”

Quem for até o Sesc nesse fim de semana, terá a oportunidade de conhecer algumas das composições que integrarão o terceiro disco de Ranaldo com a The Dust, cujo lançamento, diz ele, deve ocorrer em alguns meses. “Tenho mostrado muitas novidades”, ele revela.

Com o provável título de Electric Trim, o álbum será novamente produzido por Raül Fernández, músico e produtor espanhol mais conhecido pelo apelido de Refree, assim como se deu em Acoustic Dust. “Temos trabalhado neste álbum há pelo menos um ano”, conta o guitarrista. Fernándes, agora, é integrante da The Dust e deverá vir com o restante da trupe numa futura turnê, quando o novo álbum for lançado. “Definitivamente, voltaremos nesse contexto”, garante.

O roteiro da apresentação solo de Ranaldo não inclui canções criadas com o Sonic Youth, ele diz. “Já tocamos algumas coisas, uma vez ou outra, mas preciso dizer que estou interessado em mostrar esse material novo que estou produzindo.”

Para Ranaldo, apesar da fama de ser ruidoso com a guitarra, o formato acústico não lhe é estranho. “Grande parte das músicas que faço nascem no violão”, explica. “E meu início no instrumento foi assim também. Sempre ouvi muito Neil Young, Bob Dylan, Joni Mitchell e David Crosby. Depois, passei a ouvir Jefferson Airplane, Leonard Cohen, coisas assim.”

O interesse de Ranaldo pelo formato acústico, inclusive, o levou, na última passagem que ele fez por São Paulo, em 2013, a conhecer a viola caipira – instrumento cujo nome ele se esforça, mas tem dificuldade para dizer. “Adorei o som daquele instrumento”, ele diz. “Estou pensando se, dessa vez, eu não consigo trazer um comigo.”

LEE RANALDO

Sesc Belenzinho. Rua Padre Adelino, 1.000, Belenzinho, tel.: 2076-9700.

Sáb. (10), às 21h, e dom. (11), às 18h. R$ 9 a R$ 30.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Voltar ao topo