Pedro Paulo Figueiredo/Carta Z Notícias
A jornalista, que viveu dois anos
 na China como correspondente internacional da Globo, está na
foto com o marido, o cinegrafista Paulo Zero, e com o líder espiritual tibetano, Dalai Lama.

Nos dois anos em que viveu na China como correspondente internacional da Globo, Sonia Bridi não passou despercebida pelas ruas. Com seus traços bem ocidentais e olhos verdes, chamava a atenção das criancinhas nas ruas que gritavam para ela ?laowai, laowai? – que significa estrangeiro em palavra chinesa. E um país com cultura e costumes tão diferentes dos nossos também não passaria despercebido sob os olhares da jornalista. Para contar sua experiência profissional e pessoal, Sonia acaba de lançar Laowai – histórias de uma repórter brasileira na China. ?É um lugar que guarda muitos mistérios. Me perguntam sobre tudo que vivi e acho que o pouco que consegui compreender eu tinha de registrar?, diz a jornalista.

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Nas 384 páginas ilustradas por várias fotos feitas pelo marido de Sonia, o cinegrafista Paulo Zero, o livro da editora Letras Brasileiras registra momentos felizes e frustrantes. A jornalista não hesita em contar que a maior alegria em todo esse período que viveu na China era conseguir produzir e enviar as matérias para o Brasil. A burocracia do país atrapalhava bastante. ?Foi muito duro negociar por 10 meses uma matéria em uma mina, chegar lá e não ter ninguém para falar com você?, relembra Sonia.

Na busca pela pauta, a jornalista conta também que cometeu uma de suas maiores gafes. ?Pressionei um chinês publicamente até que ele me disse não, com vergonha. E deixar um chinês envergonhado é a pior coisa que alguém pode fazer?, explica.

Junto com Paulo Zero, Sonia formou a primeira equipe da Globo a montar uma base de jornalismo na China. Apesar da rotina pesada para desenvolver matérias, os momentos com a família também são guardados com carinho e registrados no livro. O filho do casal, Pedro, tinha apenas 3 anos quando eles toparam a empreitada de se aventurar em terras orientais e desconhecidas. ?Avaliar a rotina do meu filho lá também foi complicado. Mas descobri muito para as minhas pautas indo atrás das necessidades dele?, avalia Sonia.

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O garoto chegou a aprender bem o mandarim. Sonia, nem tanto. Ela contou com a ajuda de uma intérprete para os trabalhos mas, para o dia-a-dia, sobreviveu com a decoreba. ?Decorei como se falava o endereço de casa, como se pedia água ou duas cervejinhas?, conta ela aos risos.

Apesar de tantas diferenças, a jornalista enfatiza que China e Brasil têm mais em comum do que muitos ousam imaginar. Os chineses são alegres, gostam de se reunir com os amigos ou jantar em família. E também são curiosos. ?Paravam para ver a gente trabalhando. Eles são tão ignorantes em relação a nós quanto somos em relação a eles?, compara.

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Sonia deixa claro que jamais pensou em fazer um livro sobre a sociedade chinesa, seu regime político ou sua economia. ?É apenas o relato de uma família e de repórteres que viveram lá?, resume. Ela diz ainda que espera que o livro chame a atenção das pessoas para o fato de que a China vai muito além do país pitoresco com culinária estranha. ?Eles têm hábitos saudáveis, vivem um crescimento estrondoso e devemos prestar atenção nisso?, defende a jornalista.

Trabalhando atualmente como correspondente internacional da Globo em Paris, Sonia integra a equipe da emissora que vai cobrir as Olimpíadas de Pequim. Depois de viver em meio a um imenso canteiro de obras, a repórter está ansiosa para ver tudo pronto e espera que os Jogos dêem muito certo. ?O sucesso das Olimpíadas pode levar a uma abertura do país. Já o fracasso pode fazer com que eles se fechem ainda mais?, avalia Sonia.

Laowai – histórias de uma repórter brasileira na China – Editora Letras Brasileiras, R$ 39,90.