Kendrick Lamar concorre hoje ao Grammy

Kendrick Lamar. Há um punhado de razões para se brincar de futurologia e colocar muitas fichas sobre o nome deste rapper como o grande vencedor do 58.º Grammy, nesta segunda-feira, 15. A primeira e mais evidente: a chamada academia segue uma certa lógica na eleição dos “mais premiados”. Eles sempre representam o hype pop, aquilo que está a estourar para além do território norte-americano, e Lamar, mesmo sendo um homem na estrada desde 2010, tem terras a conquistar. É a serviço da indústria que o Grammy funciona e, se não premiar o melhor disco que a indústria fez em 2015, estará cometendo a maior das injustiças. O que também não seria novidade.

A concorrência na principal categoria, a de álbum do ano, está assim: 1989, de Taylor Swift; To Pimp A Butterfly, de Kendrick Lamar; Sound + Color, do Alabama Shakes; Traveller, de Chris Stapleton; e Beauty Behind The Madness, do The Weeknd. Dois brasileiros estão acomodados na velhas categorias para aquilo que o mercado dos norte-americanos não entende como pop: Gilberto Gil concorre a Melhor Álbum de World Music com Gilbertos Samba, feito para homenagear a obra de João Gilberto, e Eliane Elias está na briga pelo Melhor Álbum de Jazz Latino com Made in Brazil, gravado no lendário Abbey Road Studios, em Londres.

David Bowie morreu falando de Lamar. Ao lançar Blackstar, pouco antes de partir, explicou sua inspiração conceitual nas atmosferas do jazz (mesmo não sendo seu álbum um disco de jazz) depois de ouvir um trabalho do rapper. O que ele buscava para além do rock era a possibilidade. E foi ouvindo o caleidoscópio Lamar que a vontade de fazer as conexões com o mundo se materializaram. Eis o melhor momento de Lamar, mais do que em 2013, quando foi indicado para sete categorias. Desta vez, sua música rendeu 11 indicações, incluindo suas colaborações nos trabalhos de Taylor Swift e The Weeknd, outros fortes concorrentes da noite. Nada mal para um garoto de 28 anos.

Lamar deve levar tudo, ou quase tudo. Sua força se sobrepõe aos conceitos do rap clássico para torná-lo elegante e adulto. To Pimp é um salto suicida em direção ao free jazz, um caminho bem-sucedido e sem volta. For Free? é nervosa e o expõe como uma metralhadora verbal impressionante. King Kuta volta ao R&B com pegada afro. E God Is Gangsta tem, antes de tudo, um vídeo obrigatório. Embriagado, o personagem de Kendrick Lamar narra com força impressionante: “Tomo um gole de Hennessy e, em seguida, fico bêbado / Eu não sou um bebedor, eu sou um pensador, chame do que quiser / Mas se você virar as costas, saiba que acabou de perder sua chance / Para testemunhar a merda mais real que já foi dita ao homem”. É tudo grandioso e superproduzido, mas Lamar se sustenta sozinho. Alright, a canção que concorre à melhor do ano, brigando com Blank Space, de Taylor Swift; Thinking Out Loud, de Ed Sheeran; Girl Crush, de Little Big Town; e See You Again (Feat. Charlie Puth), de Wiz Khalifa, tem uma dureza cortante.

Um dos singles de sua maior concorrente, Taylor Swift, deixa evidente a supremacia de Lamar. Bad Blood, ultrapassada de nascença, só cresce nas partes em que Lamar aparece, no vídeo e no áudio.

O Alabama Shakes, também na categoria Melhor Álbum, se distanciou da pegada setentista que a consagrou e abriu uma nova porta de retorno imprevisível com Sound And Color. Os fãs de southern rock detestaram, mas os mais jovens podem gostar mais. Só não é o melhor disco da temporada, definitivamente.

A simples indicação do country Chris Stapleton já lhe dá uma ajuda e tanto com seu primeiro disco, Traveller. E Beauty Behind The Madness, do Weeknd, tem mais chances. Nada páreo para a fúria de Lamar.

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