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Julieta Venegas despe a própria obra

Julieta Venegas, 25 anos de carreira, 8 milhões de discos vendidos e um Grammy na estante depois, estava nervosa. Pela primeira vez desde que descobriu sua estética – um pop doce, enfeitado por acordeão, com instrumentação cheia -, estaria com poucos ao seu lado no palco. Na turnê Parte Mía (algo que, em português, pode ser traduzido livremente como “parte minha”) é, como o nome diz, uma parte daquilo que ela se acostumou a fazer. “Desta vez, estou só eu e mais dois músicos”, ela afirma. “Habitávamos um ambiente sonoro muito maior. Mas, agora que isso passou, estou gostando. Estou ficando inspirada.”

Com essa nova roupagem, despida de camadas, Julieta Venegas volta ao País com o qual tem uma relação bastante próxima, embora exista uma inexplicável barreira linguística para artistas latinos por aqui. Três anos depois de passar pelo Brasil com o álbum Los Momentos, um disco que reflete sobre maternidade e otimismo, ela se apresenta em São Paulo neste sábado, 22, com um repertório mais agudo quando o assunto são as questões políticas.

A apresentação paulistana ocorre no Tom Brasil, a partir das 22h, e tem a participação especial do rapper Criolo. “Conheço a música dele desde 2012, 2011”, relembra a cantora. Foi o disco Nó na Orelha, que fez com que o rapper estourasse aqui no Brasil, que chamou também a atenção da cantora mexicana. Eles se conheceram no ano passado, no México, conta Julieta, e cantaram uma música de Chico Buarque. A música escolhida para o dueto em São Paulo é mantida em segredo. “Será emocionante”, adianta.

O último trabalho dela, Algo Sucede, é uma obra que pende a apresentar as reflexões de Julieta com o mundo ao redor – e, principalmente, no México, cuja violência do narcotráfico e policial tem criado situações como o desaparecimento de 43 estudantes em um ônibus que viajava pelo Estado de Guerrero. Por meses, nos anos seguintes, a principal avenida da Cidade do México, chamada Paseo de La Reforma, era fechada por manifestantes em busca de respostas e, principalmente, do paradeiro daqueles jovens.

“Eu sinto que, ainda assim, é um disco bastante iluminado”, avalia a cantora, que fala do quarto de um hotel em São Paulo. “É um álbum que apresenta muitas temáticas da vida. Canto sobre infância, sobre adolescência, sobre encontros amorosos. Mas, é claro, também é um disco bastante centrado no que se passa no México.”

É um trabalho de opostos. Explosión, uma das canções mais roqueiras e incisivas do álbum, apresenta versos que narram cenas de violência, canta por Josés e Pedros desaparecidos e lamenta as explosões. “Diga-me, você vai permitir que isso aconteça por aqui?”, ela questiona durante o refrão.

Há, por sua vez, músicas daquelas que Julieta sabe fazer como poucos, com versos que aquecem corações e embalam romances. Tu Calor é o destaque de Algo Sucede nesse quesito. Ali, ela se derrete pela paixão. “Sinto o seu calor, invadiu meu território e me marcou”, ela fala. Nessa balada, o amor a reanimou, embora ela não cante a entrega completa. Há espaço para o receio diante de tudo. “Tudo se mexeu, estou banhada de luz. E ilusão”, canta.

“Não gosto de centrar meu show inteiro em um só disco”, avisa. “Mas a ideia aqui é reinterpretar essas canções todas nesse formato.” No palco, Julieta estará acompanhada de Matías Saavedra e Sergio Silva, ambos multi-instrumentistas, como ela. “Dessa forma, me sinto muito livre no palco”, conta. “Mas na primeira vez que toquei, terminei o show exausta. Não estava mais acostumada a ter o acordeão comigo por tanto tempo.”

JULIETA VENEGAS

Tom Brasil. R. Bragança Paulista, 1.281, tel. 4003-1212. Sáb. (22), às 22 h.

R$ 120 a R$ 220.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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