Em encontro com blogueiros, ativistas da cultura digital e sites independentes em São Paulo, no Centro Cultural São Paulo, o ministro Juca Ferreira disse na quarta-feira, 4, que encontrou um “clima de medo” no retorno ao MinC, um ambiente de insegurança, no qual “ninguém assina nada” – referindo-se à dificuldade de se assumir compromissos. Estimou a retomada dessa confiança em 3 meses, e também se mostrou confiante em “sair desse imbróglio em que a gente está entrando, essa crise política”.

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Ferreira não mostrou o costumeiro espírito conciliador. Afirmou que, em sua gestão anterior, seus adversários o tratavam como a um “ursinho de pelúcia”, mas que a conjuntura agora “está mais para enfrentamentos do que consensos”.

Segundo Ferreira, “as energias corrosivas estão soltas”, e que o País passa por um momento de insegurança, de perda de credibilidade na própria democracia. Os que foram responsáveis pelos avanços sociais hoje “estão na berlinda”, considerou, e o que emergirá disso será algo no qual a cultura terá um papel preponderante.

O ministro alfinetou os precoces primeiros críticos de sua nova gestão. “Estamos trabalhando a mil. Os opositores também, podem ver aí pela grande mídia”, disse. Chamou de “boçal” um articulista do jornal Folha de S.Paulo, que não nominou, e que escrevera que o coletivo Fora do Eixo estaria aparelhando o Ministério. “O que a imprensa enche meu saco por causa do Fora do Eixo”, ele disse, acrescentando que foi secretário de Cultura de São Paulo e a instituição nunca teve um único integrante na gestão, e que o único edital para o qual concorreu o Fora do Eixo perdeu.

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Rebateu quem considerou a nomeação de Beto Brandão para a presidência do Instituto Brasileiro de Museus como uma escolha de direita, retrógrada. “A política é a mesma”, afirmou, dizendo que a acusação de facilitar a privatização de museus é infundada. “Não é nada disso. Não vamos privatizar. Ele vem para modernizar”.

Discursou contra a eclosão de diversos núcleos de corrupção na administração pública, e voltou a dizer que considera esse um ciclo político esgotado. A leniência com a corrupção e a “falta de lucidez”, disse, permitiu que houvesse uma “emergência de um Brasil reacionário assustador, um reacionarismo proto-fascista”. Disse que é urgente corrigir esse rumo. “Nossos corruptos não são melhores que os corruptos dos outros. São piores”.

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Juca Ferreira comparou seu grupo de auxiliares nas duas primeiras gestões do governo Lula aos 300 de Esparta, dizendo que enfrentou um inimigo poderoso e numeroso sem se desviar de seu objetivo – citou de novo a imprensa como aríete dessa investida. “Disseram que a gente queria cercear a livre expressão. Com Gilberto Gil isso não pega. Comigo, que sou menos famoso, pode até pegar”, afirmou. Ao finalzinho, ele mencionou a manifestação pelo impeachment da presidente Dilma marcada para o dia 13 e disse que a considera “um erro”.

Um dos seus auxiliares, o novo presidente da Funarte, Francisco Bosco, lembrou de uma boutade contada internamente no ministério, que o compara à Islândia no atual momento. Bosco explicou: no momento de crise na Europa, em que todos os países se submetiam à ortodoxia econômica, a Islândia foi no sentido contrário, aprofundando a democracia. O encontro com os midialivristas (como o grupo que não milita em grandes grupos de mídia foi batizado) ali presentes mostrava, segundo o presidente da Funarte, que a imagem é correta. “Não imagino o Joaquim Levy fazendo uma reunião como essa”, afirmou.

Estiveram presentes representantes de sites como Diário do Centro do Mundo, Revista Fórum e blogs como O Cafezinho. Compuseram a mesa, além de Ferreira e Francisco Bosco, o secretário de Políticas Culturais do MinC, Guilherme Varela, e o mediador Julio Bittencourt.