Jornalismo na 3.ª margem

O repórter Júlio Ludemir conta sua vivência como jornalista nos bastidores do sistema penitenciário em No Coração do Comando. Waldo César escreve Tenente Pacífico, no qual mistura sua experiência de jornalista e sociólogo para registrar fatos da Revolução Constitucionalista.

E Leandro Fortes mergulha no obscuro mundo da corrupção em Cayman: O Dossiê do Medo. As obras dos três jornalistas estão em lançamento pela Editora Record.

Júlio Ludemir passou todos os finais de semana de 2001 batendo ponto num presídio carioca. Tinha um bom motivo: escrever a história de Valéria e Marquinho – a versão “Romeu e Julieta” dos presídios cariocas. Ela, sobrinha de um chefão do Terceiro Comando. Ele, integrante de primeira hora do Comando Vermelho. Esta é a explosiva e emocionante história de No Coração do Comando.

Valéria e Marquinho se cruzaram pela primeira vez no Complexo Penitenciário Frei Caneca e logo as facções rivais proibiram o romance. Presos em cadeias vizinhas – Nelson Hungria e Milton Dia Moreira -, Valéria e Marquinho ignoraram a proibição. E, apaixonados, protagonizaram durante três anos uma história de amor jamais vivida no interior de uma cadeia. Um amor que só poderia acabar em tragédia, como no clássico de Shakespeare.

O jornalista envolveu-se profundamente com a história e manteve inúmeros contatos com o casal, em movimentos diferentes. Admite: “Fiquei muito íntimo do casal, mas nunca deixei de tratá-los como bandidos”. Viu de perto toda a violência e rivalidade entre o Comando Vermelho e o Terceiro Comando e no que essa disputa e ódio podem resultar.

Romance histórico

Em Tenente Pacífico, Waldo César une fatos reais e imaginação, criando uma narrativa, às vezes em primeira pessoa, que se desenrola durante a Revolução Constitucionalista de São Paulo, ocorrida em julho de 1932. O livro tem por fio condutor a memória de uma pacífica família protestante, que subitamente se vê envolvida num conflito nacional de largas proporções. Isso acontece a partir da presença do tenente Pacífico, que chega a Resende, quartel-general das forças governamentais, com o intuito de pedir apoio e orações do reverendo Samuel para sua missão. “A família existiu – e ainda existe. E foi real o encontro entre o soldado e o reverendo, com implicações que percorrem todo o romance”, explica Waldo.

O livro explora o conflito interno do personagem Pacífico. Ele deve combater e matar paulistas revoltados contra a ditadura Vargas, mas sua consciência de crente necessita descobrir como situar-se entre a submissão ao comando militar e a desobediência civil. Entre a vida e a morte, o bem e o mal.

Escândalo

O Dossiê Cayman deixou o governo em polvorosa com acusações de corrupção que chevagam até o presidente Fernando Henrique e seus colaboradores mais próximos. Um documento pouco visto, mas muito comentado, que se revelou uma fraude. Em Cayman: O Dossiê do Medo, Leandro Fortes investigou essa operação fraudulenta e revela o esquema, ainda obscuro, de poucos rastros e nomes sussurrados, de combinações de gabinete e acordos impublicáveis. O autor analisa as relações do submundo da política nacional, com a melhor arma jornalística: um texto recheado de ironia. O resultado é uma mistura de reportagem e livro policial, onde o leitor pode finalmente se inteirar de um dos capítulos mais obscuros da recente história brasileira.

Escrito enquanto trabalhava como subeditor da revista Época, o livro mostra como foi montado o dossiê, dá nome aos responsáveis pelo esquema, mostra como funciona a máfia brasileira em Miami, revela os objetivos por trás do golpe e destaca alguns pontos que, até hoje, estão sem resposta. Um livro que expõe as misteriosas ligações de criminosos com o poder, mostra as dimensões que uma fraude pode tomar, o que pode ser feito para que a verdade não seja investigada e de que maneira é possível lavar dinheiro em paraísos fiscais internacionais.

O ano de 1932

Festejada neste mês pelos paulistas, a Revolução de 32 não é restrita a São Paulo. Segundo Hernâni Donato revela em História da Revolução de 32 (Ibrasa, 160 páginas), combatentes de seis outros Estados participaram do movimento cívico-militar. O autor é presidente de honra do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.

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