Contador de histórias, o diretor Otávio Escobar considera-se privilegiado. Escolhido pelos filhos de Jorginho Guinle – Georgiana e Gabriel – para contar a história de seu pai, descobriu um personagem extraordinário. “Ele faz parte do imaginário brasileiro. Sou um homem de 60 anos e como todos da minha geração invejava o playboy que teve casos com todas aquelas mulheres deslumbrantes de Hollywood. Ao me aprofundar na pesquisa, descobri um personagem muito mais rico e complexo.”

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Jorginho Guinle viveu o apogeu do Rio, nos anos 1940 e 50. Evoca um Brasil mítico, das grandes fortunas. Um Rio que poderia ter sido – grandioso e sofisticado? -, antes que décadas de corrupção e violência reduzissem a cidade chamada de maravilhosa, apesar de toda a sua beleza, ao atual estado de penúria. “Era realmente o meu objetivo, pensar o Brasil a partir de Jorginho e do que representava.” Jorginho ficou famoso como playboy. O homem que nunca trabalhou. Seu problema foi um erro de cálculo. Ao esbanjar a fortuna que recebeu de herança, não imaginou que viveria tanto. Dilapidou até o último centavo. Morreu pobre.

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Seu nome está ligado ao apogeu do Copacabana Palace, quando o hotel acolheu grandes estrelas – Rita Hayworth, Kim Novak. Ao amigo que lhe perguntou se havia feito sexo com elas, respondeu – “Não serei eu a desmentir.” Fez-se a lenda. Para contar sua história em Jorginho Guinle – $ó Se Vive Uma Vez, Escobar adotou o formato do docudrama. “Desde o princípio pensei em quatro pilares – depoimentos, narração em primeira pessoa, música e material de arquivo. Meu pesquisador descobriu preciosidades, como a participação dele, numa ponta em A Lágrima Que Faltou, de Melville Shavelson, com Danny Kaye e Louis Armstrong. Pagar os direitos das músicas, das imagens, nada foi barato. Mas teria sido impraticável, além de mais caro, reconstituir tudo.”

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Por que Jorginho agora? “Porque estamos vivendo num país dividido pelas fake news e pelo prazer que as pessoas parecem que estão tendo em se ofender e odiar. Pesquisando, ouvi de todas as fontes que ele não tinha inimigos. Era um gentleman. Até nisso acho que Jorginho nos deixa uma lição e evoca um Rio e um Brasil sonhados, que não têm mais respaldo na realidade.” O filme é muito bom.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.