Jorge Vercilo lança quinto CD da sua carreira

Do alto das 250 mil cópias do CD Elo (2002), ostentando disco de ouro pela primeira coletânea – Perfil -, o carioca Jorge Vercilo, que emplacou ainda os hits Homem-Aranha e Fênix (tema da minissérie A Casa das Sete Mulheres), sente-se à vontade para encarar público e crítica novamente em Livre. É o seu quinto trabalho, que acaba de ser lançado pela EMI, acompanhado de um DVD.

“Sinto-me livre da pressão do início, das falsas expectativas, de qualquer tipo de receio e das críticas”, explica. “Preocupo-me apenas com a autocrítica, que é fundamental. Mas o disco reflete um momento em que estou me sentindo muito livre para cantar e compor.”

Como diz o próprio artista, Livre não decreta nenhuma ruptura, nem se pretende antagônico aos trabalhos anteriores. Seria mais a conclusão de uma trilogia, iniciada com Leve em 2001 e seguida no ano passado com Elo (os três pela EMI). “Esse disco sedimenta e reafirma o meu estilo, como se eu estivesse reforçando minha assinatura musical.”

De fato, logo na primeira música dá para perceber a marca de Jorge Vercilo: Monalisa é uma balada suingada, sobre uma eficiente cama de percussão, boa melodia e refrão “grudento”. Contraste, ainda que a contragosto, remete a Djavan. Mas um Djavan “acariocado”, soando como um fim de tarde no Leblon.

A comparação com o alagoano, aliás, ainda irrita o autor de Que Nem Maré: “Isso é mais uma coisa de parte da imprensa, que sempre precisou rotular ou estabelecer comparações”, considera. “Não nego que o Djavan seja uma influência importante, mas não é a única. Gosto do João Bosco, de standards do jazz, e de muitas outras coisas. Mas acho que o público e alguns jornalistas já ultrapassaram isso, já se curvaram ao conteúdo e perceberam o reconhecimento ao meu trabalho”.

Queira ou não, o fato é que o timbre de Jorge Vercilo é quase idêntico ao de Djavan. Se fecharmos os olhos dá até para confundir – ouça por exemplo a levemente sombria Asas Cortadas. Invisível é um híbrido de bossa-nova com valsa, com uma métrica peculiar e bateria binária, e tudo isso descendo “redondo”.

“Fofa”

Xeque-mate acaricia os ouvidos com uma melodia “fofa” e um refrão a la Flávio Venturini. A surpresa fica por conta do solo flamenco entremeado por insuspeitas frases de sintetizadores. A balada As Árvores mantém o clima aconchegante com sua sitar-guitar e o sax longínquo, e traz a melhor imagem do disco – “as árvores morrem de pé”.

Ventania retoma a atmosfera latina, com a melodia flutuando sobre a percussão, enquanto a grandiosa Filmes presta reverência ao cool jazz de trilha sonora. Destaque para o arranjo sofisticado de sopros e cordas e à melodia inspirada. A faixa-título, nas palavras do próprio Vercilo, “é um charm, que vira uma salsa no refrão”. Mas a música mais original do disco é Canavial, a última inédita. Ela começa com o canto de Oxalá, recupera a musicalidade dos engenhos de cana-de-açúcar do Brasil-colônia, e acerta ao falar da “fecundação do ventre e da terra”. Mas tem um quê de Tieta, de Luiz Caldas.

O CD termina com dois remixes assinados por Memê – Contraste e Monalisa. “Gosto de colocar remixes para que a música freqüente universos mais jovens, como boates e danceterias, sem que ela seja violada ou violentada”, explica. Seria uma forma de se prevenir contra a manipulação dos DJs? “Não tenho nada contra a intervenção dos DJs, desde que se preserve o sentimento”. Em poucas palavras, em Livre Jorge Vercilo aposta na latinidade sofisticada. O resultado é um disco “ensolarado”.

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