Jorge Ben Jor volta à alquimia em seu novo CD

Paciente e perseverante como os personagens que descreve em “Os alquimistas estão chegando”, Jorge Ben Jor ficou três anos trabalhando no CD Reactivus amor est (Turba philosophorum) (Universal), que chega agora às lojas. Se formos contar a espera desde seu último disco de inéditas, Homo sapiens, são nove anos.

Mas a paciência não é o único ensinamento alquímico que aparece no novo CD. Como fez em discos clássicos como Solta o pavão e A tábua de esmeralda – revividos recentemente nas pistas e em shows do Nação Zumbi e de Sandra de Sá – Ben Jor visita o tema com letras inspiradas. Está lá, é claro, todo o universo do compositor nas 16 músicas: o futebol, as mulheres, um belo conto de carnaval, a sagacidade do linguajar das ruas. Mas é a sabedoria medieval que dá a tônica. A começar pelo nome do CD.

“Reactivus amor est tem a idéia do amor reativado, para sempre. E Turba philosophorum é uma reunião amistosa de alquimistas, filósofos” – explicou Ben Jor, na entrevista coletiva.

É um disco sobre

o cotidiano

Já na faixa de abertura, Mexe mexe, Ben Jor ensina, alquimicamente, que “Quando você para de brincar de mexer/ Você envelhece/…/ A sua barba cresce”. Em O rei é Rosa Cruz ele canta um universo medieval e místico em versos como “Nena, Nena Pendragon/ Camelot, Camelot, Camelot/…/ Que Deus conserve a sabedoria e a bondade do rei”. O mesmo clima está em História do homem (Aquele Santo Homem/ Só porque pensava diferente, falava com destreza/…/ Era olhado como um bruxo, um fora da lei”). Mais lições estão em C 589, que diz que “O estudo da filosofia e da teologia/ Deve ser feito de acordo com o ensinamento/ De Santo Tomasso D?Aquino”.

O disco é sobre o cotidiano urbano e suburbano das pessoas de bom senso em busca da paz – resume.

Quando fala em cotidiano urbano e suburbano, o músico chama atenção para um outro lado do disco, quando a sabedoria dos livros é deixada de lado pela sabedoria dos salões de baile (funk ou gafieira). É o que faz em Janaína Argentina, de guitarra inconfundível que remete aos sambalanço que ele aprimorou nos 80, quando assumiu o instrumento e abandonou o violão. A letra avisa “Lá vem Janaína Argentina/ Por isso quando ela passar ninguém mexe que tem dono/ Está comigo, pode olhar, mas sem tocar”.

Chegando na casa dos 60 anos – ele não revela a idade de jeito nenhum -, Ben Jor ainda tem o faro da rua.

Flamengo, Pelé e

filosofia dos gramados

O futebol comparece em Tupinambás, que, na mesma filosofia dos gramados presente na antiga Zagueiro, ensina que “Goleiro é pra defender, defesa é pra marcar/ Meio-de-campo é pra criar/ O ataque é pra atacar”. A paixão pelo Flamengo está em “Eu bem que lhe avisei”, em versos que passam longe da realidade do campeonato brasileiro (“Por isso é muito justo que o mais querido Mengão/ Seja a melhor equipe da nação”). Isso foi escrito há três anos, quando li no jornal que o Flamengo era a melhor time do Brasil -justifica-se. – Mas hoje está difícil.

Pelé é homenageado em O nome do Rei é Pelé, composta para o filme Pelé eterno, de Anibal Massaini. A canção enumera os feitos de Pelé com uma precisão do tipo “fez 1.281 gols lindos”.

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