O seu incrível talento e sensibilidade para observar e saber dizer em questão de minutos se uma pessoa tem futuro ou não como modelo foi o que transformou John Casablancas em o todo-poderoso do mundo da moda. Fundador de uma das agencias de modelos mais famosas do mundo, a Elite, Casablancas foi quem descobriu e projetou tops de sucesso como Gisele Bündchen (sua grande decepção) Naomi Campbell, Claudia Schiffer, Linda Evangelista e Cindy Crawford. Ele consegue estudar as pessoas e ver se elas tem as características que definem o sucesso de uma modelo. Ele olha não só a beleza, mas a expressão do olhar, traços faciais, proporção e linha corporal, atitude e sensualidade.
Ele sabe discernir uma beleza simplesmente atraente de um potencial real para uma carreira de top model. Porque, segundo ele, nem toda mulher bonita pode ser modelo. Tem que ter atitude de modelo, muita personalidade e inteligência. Ele conta que entrou nessa profissão naturalmente, “guiado por um pólo magnético muito sutil e poderoso. Algumas pessoas chamam isso de destino, mas eu acho que, sobretudo, eu consegui transformar meus maiores defeitos em minhas maiores qualidades”, observa. De família muito rica catalã, John Casablancas diz que viveu muito mais do que sonhara na infância, na qual viveu entre México, Estados Unidos e Europa.
Agora ele lança sua biografia, Vida modelo, para dividir com o mundo algumas polemicas, os segredos picantes dos bastidores da moda, suas aventuras e maravilhosas experiências como jovem bonito e sedutor, empresário, marido (ele foi casado três vezes) e pai de sete filhos, entre eles, Julian Casablancas, vocalista da banda de rock The Strokes. Apaixonado pelo Brasil (sua terceira mulher, Aline, 30 anos mais jovem, é brasileira), ele esteve em Curitiba essa semana para lançar o livro. De agência nova, a Joy Model Management, ele está lançando também um novo concurso de beleza, o Beleza Mundial. Muito simpático, ele bateu um papo comigo no hotel Mabu, no centro da cidade.
Como que você começou nessa profissão?
Por acaso. Eu estava morando em Paris e trabalhava com arquitetura. Todos os dias eu via entrar no hotel uma mulher linda, que mais tarde eu descobri ser uma modelo. Acabamos nos conhecendo e nos casando. Comecei a me envolver nesse mundo. Abri a minha primeira agencia que foi um desastre. E foi assim que eu entrei, não foi nada pensado. Fui crescendo, aprendendo e se tornou a minha paixão, vi com o tempo que eu tinha talento. Percebi que eu tinha uma intuição, uma maneira diferente de avaliar as pessoas. É como o sentimento do amor, do desejo, você sente, mas não sabe explicar direito o que é. Eu sinto o talento.
O que você vê de diferente em uma mulher que você diz “essa vai ser modelo famosa”?
Varia, mas geralmente elas têm um algo mais, uma luz especial. Umas são sensuais, sexy, outras têm um senso de elegância fora do comum, outras são extremamente lindas, e outras é a personalidade, elas conseguem encantar a todos. E outras é uma soma de tudo isso.
Você diz que a Gisele Bündchen foi a sua maior decepção. Por quê?
Eu descobri a Gisele com 14 anos, num concurso da Elite em São Paulo. Era uma menina simpática, positiva e trabalhadora, mas tinha um problema, fala igual a uma metralhadora, e só besteira. Assim que eu comecei a trabalhar com ela eu vi que ela tinha uma postura na frente da câmera fotográfica e na passarela que era muito interessante. Ela começou a crescer e, em 1999, ela saiu da Elite sem dizer uma palavra pra mim. Abandonou a Elite que a descobriu, cuidara dela e forjara sua carreira, de um modo que eu considero até hoje desonesto. Ela nos jogou no lixo justamente no momento em que tínhamos conseguido levá-la ao auge, ao topo absoluto. O que mais me enfurece até hoje é que ela se recusa a reconhecer que fez ,algo errado. Ela reescreveu sua história pública de uma forma que a Elite desapareceu por completo. Como modelo ela é ótima, como pessoa é egocêntrica e ambiciosa.
E o que você acha das modelos de hoje?
As modelos são cabides, magrinhas, sem nada a dizer, branquinhas, sem graça. Isso porque os agentes que não sabem escolher. Eu escolhia mulherões, bonitas, que causavam frisson na hora de entrar na passarela. Hoje quem causa frisson num desfile de moda não está na passarela, são as atrizes como Juliana Paes e Grazi Massafera que estão sentadas na primeira fila.
As modelos mudam muito de atitude depois que ficam famosas?
Sem dúvida, como os atores, cantores e esportistas que ganham fama. As modelos são muito doces e acessíveis quando começam, vão ficando exigentes e insuportáveis, e no auge da carreira, elas ficam totalmente insuportáveis. Depois quando vão caindo vão se humanizando de novo. Não tem outra profissão que não mexe tanto com o ego e a vaidade da pessoa. Elas têm todos os dias pessoas falando o tempo inteiro que elas são lindas. Elas são desejadas por muitos homens. No trabalho, o maquiador, o fotógrafo, o cabeleireiro e o estilista estão o tempo inteiro dizendo “you are divine”, aquele exagero típico. Eu sempre digo que o mundo da moda é um circo cheio de palhaços que se levam muito a sério.
Por que você vendeu a Elite?
Eu prometi a minha mulher que em 1999 eu iria me aposentar. Ela tem 30 anos a menos do que eu, então ela queria que eu parasse de trabalhar quando ainda tinha condições de aproveitar e vida e viajar com ela. E também porque aconteceu o escândalo da BBC (a história inteira está no livro). Meu sócio da Elite Europa passou por uma situação ridícula. Com uma câmera escondida, o gravaram falando uns absurdos e então brigamos. E já que eu estava querendo me aposentar, eu vendi, peguei meu dinheiro e me mandei, uf!!
E esse ano abriu a Joy Model Management?
Sim, abri em São Paulo e uma pequena sucursal em Porto Alegre. Mas eu vou trabalhar só na parte que eu mais gosto, descobrir novas modelos.
Como será o Beleza Mundial?
O concurso vai reunir candidatas com idade a partir de 15 anos que passarão por um processo de seleção em todos os estados do Brasil. Mas é um concurso diferente, na qual os olheiros, aqueles que irão descobrir a novas top models, são manicures e cabeleireiros de todo o País. Nós vamos cadastrar todos esses profissionais e orientá-los.
Que dicas você daria para quem quer seguir a carreira de modelo?
A primeira coisa que você deve fazer é descobrir se quer ser modelo mesmo ou se você só gosta de moda. Tem que ser muito critica também. Ficar nua na frente do espelho e se olhar e ver se realmente você tem condições de ser modelo. Se você tiver menos de 1, 74 de altura, esqueça. A única exceção é Kate Moss, que mede 1,70 e é uma top model, mas ela é um gênio na sua categoria. Uma vez que você determinou, sou alta, tenho perna comprida, sou magra, medidas proporcionais, aí você vai em frente e não deixa ninguém dizer que você não pode. Você tem que ser uma pessoa que aceita rejeição, não pode se deprimir se levar um não, porque você vai levar muitos.


