Jogo duro na Copa do Mundo

A Globo tornou-se a “dona da bola” da próxima Copa do Mundo. A emissora adquiriu, sozinha, os direitos de transmissão no Brasil. Quando viu que estava difícil conseguir o que pretendia em cotas publicitárias, ainda tentou negociar a exibição dos jogos com outras emissoras, mas ninguém se interessou por causa dos altos valores. Sem poder transmitir um jogo sequer, Record, SBT, Band e Rede TV! vão ter de driblar os direitos de exclusividade da Globo para não terem de fingir que o torneio esportivo da Coréia e do Japão não está acontecendo. “A Globo nunca teve o interesse de transmitir a Copa com exclusividade. Ela se abriu a novas propostas, mas não houve retorno”, afirma Luís Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação.

A primeira emissora a esboçar um tímido “contra-ataque” foi a Record. No domingo, dia 12, ela exibe um especial sobre a Copa do Mundo no “Repórter Record”. Nele, a equipe de jornalismo da Record tenta elucidar um “suposto” desinteresse popular pela Copa de 2002. Entre outros motivos, a emissora destaca as recentes CPIs do futebol e a demora na classificação do Brasil. “Dizem que sou saudosista, mas sou é realista mesmo. Antigamente, tínhamos mais e melhores jogadores do que hoje em dia”, acredita o ex-técnico da seleção brasileira, Mário Jorge Lobo Zagallo, um dos entrevistados do programa.

Horário indigesto

Outra “bola fora” da próxima Copa é o horário de transmissão dos jogos. Como o Brasil tem uma diferença de fuso horário de 11 horas em relação aos países-sedes da Copa, as partidas que estiverem acontecendo à tarde no Oriente só vão ser transmitidos aqui de madrugada. A seleção brasileira vai entrar em campo na ordem dos três jogos da primeira fase, às 6 h, 8:30 h e 3:30 h. Mesmo assim, Juca Kfouri e Jorge Kajuru, os apresentadores do “Bola na Rede”, da Rede TV!, prometem organizar uma mesa-redonda após cada partida do Brasil. “Eu e o Kajuru vamos madrugar na emissora”, adianta, bem-humorado, o comentarista Juca Kfouri.

A boa e velha “mesa-redonda” vai ser adotada por outros programas, como “Terceiro Tempo”, da Record, “Ataque”, da Rede Brasil, e “Mesa-Redonda”, da CNT. A menos de um mês para o início da Copa, SBT e Band – que por anos adotou a alcunha de o “canal dos esportes” – ainda não se manifestaram sobre as estratégias de cobertura. Ao contrário do que aconteceu em 98, quando todas as emissoras transmitiram a Copa da França, elas vão ter de se contentar com flashes, boletins diários e os tradicionais gols da rodada nos principais telejornais.

Na última Copa do Mundo, o canal ESPN Brasil ganhou o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte, a APCA, de melhor cobertura esportiva. Este ano, os assinantes de tevê por assinatura só vão poder assistir aos jogos pela Sportv, da Globosat. Mesmo assim, o diretor do ESPN Brasil, José Trajano, promete 90% da programação do canal dedicada à Copa. “Como os jogos só acontecem pela manhã, vamos ter o dia inteirinho para analisar a Copa. Vamos poder exercer o jornalismo esportivo que todos conhecem”, minimiza Trajano.

Reféns da Globo

Mesmo confiante na boa cobertura do ESPN Brasil, José Trajano lamenta o fato de a transmissão da Copa ficar nas mãos de uma única emissora. “Viramos reféns da Globo!”, esbraveja Trajano. Já Juca Kfouri não acredita que o público esteja atrás de “alternativas”. E dá como exemplo os recentes jogos da Copa do Brasil, transmitidos pela Globo e Record. “A diferença no Ibope é massacrante”, lembra Kfouri. De fato, na quarta, dia 1º, quando transmitiram o jogo Corinthians e São Paulo pelas semifinais da Copa do Brasil, a Record registrou média de 9 pontos e a Globo, 45, uma audiência cinco vezes maior.

Discordâncias à parte, todos são unânimes em acreditar que nem o fraco desempenho da seleção nas eliminatórias, nem o horário de transmissão dos jogos vai desencorajar o torcedor a acordar de madrugada para assistir aos jogos da seleção. “Não tem jeito. Copa do Mundo sempre sacode o País. Os jogos podem ser transmitidos a qualquer hora do dia e da noite que o público sempre prestigia”, empolga-se Milton Neves, do “Terceiro Tempo”.

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