Joaquin Phoenix tem feito filmes para o prazer dos cinéfilos – belos, convulsivos. No ano passado ele foi melhor ator no Festival de Cannes por seu papel em Você Nunca Esteve Realmente Aqui, de Lynne Ramsay. Para simplificar, os críticos cravaram – Joaquin criou o Travis do século 21.

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Você se lembra do personagem emblemático de Robert De Niro em Motorista de Táxi, diante daquele espelho. “Are you talkin’ to me?”, Está falando comigo? As semelhanças e reminiscências são claras, mas não mais que a trama que remete ao clássico À Beira do Abismo, de Howard Hawks, com Humphrey Bogart, de 1946. E na verdade Lynne não deve nada a ninguém porque Joe/Joaquin, com seus nervos à flor da pele, é um personagem típico de seu cinema.

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Joe é barbado, parece sujo – talvez seja -, e vive atormentado por lembranças do passado. Violência, talvez abuso infantil. Joe trabalha como faz-tudo para um detetive que agora foi contratado para resgatar a filha de um político, que foi sequestrada não por um traficante de drogas, mas um traficante de sexo. O caso, obviamente, mexe com Joe, que vai rachando contra o explorador sexual. Sujeito solitário, perturbado, resgata garota prostituída (ou quase) – mesmo contra a vontade dela. Tudo lembra Travis e a garota Jodie Foster, mas o filme (de Lynne Ramsay) tem identidade própria.

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Em nenhum momento ela sentimentaliza Joe, mesmo nas cenas em que ele cuida da velha mãe doente. O mesmo homem capaz desses gestos ternos usa um porrete – um martelo – para arrebentar as cabeças dos oponentes. E dê-lhe pau. Joaquin Phoenix é bom encarnando a fúria. Mereceu seu prêmio em Cannes. Muita gente – críticos – reclama que Lynne Ramsay é uma das diretoras queridinhas de Cannes. Tudo o que ela faz vai parar no maior festival de cinema do mundo. Thierry Frémaux, que faz a seleção, dá de ombros – se ela está na Croisette é por merecimento próprio, não por indicação de quem quer que seja.

Você Nunca Esteve Realmente Aqui

(Reino Unido-Fr.-EUA/2017, 90 min.) Dir. Lynne Ramsay. Com Joaquin Phoenix, Ekaterina Samsonov

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.