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Iron Maiden traz megaprodução à Broadway para o Rock in Rio

Com uma megaprodução adaptada para os maiores palcos da Terra, o Iron Maiden pisou no Palco Mundo do Rock in Rio 2019, nesta sexta-feira, 4, cercado de expectativas: a turnê Legacy of the Beast é a maior que a banda já fez, segundo os próprios, e as razões ficaram claras durante o show.

Um avião plana pelo palco sobre a banda. Um monstro de três metros de altura sobe ao palco para uma luta corporal com o vocalista. O cenário se transforma em catedral, prisão, cemitério e até no próprio inferno. Uma cruz é empunhada para os céus. Um Ícaro imenso aparece, tentando empenhar sua eterna fuga de Creta.

De fisicalidade ativa e vigorosa, Bruce Dickinson passeou pelo repertório antigo do grupo britânico, mas o destaque do show é o cenário, digno de produção da Broadway mas numa escala monumental, pensado para plateias imensas. A turnê não divulga nenhum disco, mas sim o videogame no formato mobile de mesmo nome, lançado em 2017.

Mas Dickinson não faz o show sozinho: do movimento de Steve Harris (o único membro fundador da banda) de “atirar na plateia” com seu baixo, à guitarra voadora de Janick Gers, até às formações de ataque em que os quatro membros da cordas se postam, o engajamento com a plateia é constante.

Com uma carreira de impressionantes 39 álbuns, a banda lançou The Book of Souls (2015), elogiado pela crítica e amado pelo público. Mas nenhuma música datada de depois de 2006 entra no setlist, um verdadeiro Greatest Hits do Iron Maiden.

O show começa com Aces High, uma canção sobre a Batalha da Grã-Bretanha, de 1940, em que a Força Aérea Britânica defende o país de ataques nazistas. Para celebrar, a banda simplesmente faz voar sobre suas cabeças uma réplica gigante de um Spitfire, o avião de guerra britânico.

“Essa música é sobre liberdade, sobre o que significa lutar pela justiça”, diz um comunicativo Bruce Dickinson antes de The Clansman – canção sobre William Wallace, o herói da Guerra da Independência da Escócia. Ao fundo, no painel enorme, Eddie assume a identidade do “homem do clã” (apenas uma de suas múltiplas versões lá no fundo).

Em seguida, em versão “real”, o mascote surge no palco com três metros de altura, vestido de soldado britânico, e começa uma luta de espadas com o vocalista, enquanto o restante da banda estica uma versão de The Trooper (1983). O monstro é derrotado na batalha por “um tiro” de espingarda que tem uma bandeira do Brasil esticada sobre ela – um gesto sugestivo para os tempos presentes, mas talvez Dickinson apenas não saiba disso.

O espetáculo multimídia e performático durante a canção é uma das coisas mais “Iron Maiden” possíveis, mesmo se falando, justamente, de um show do Iron Maiden.

A peça-show prossegue com Dickinson vestindo capa e empunhando uma cruz durante Sign of the Cross (1995). Em seguida, o Ícaro gigante passa voando, em The Flight of Icarus (1983), apenas para o vocalista torrá-lo com um par de lança-chamas, como um Leonardo diCaprio brilhante num filme de Tarantino, só que desta vez dirigido direto do inferno. O imenso objeto de pedra-falsa cai, adequadamente, ao fundo do palco.

Em Number of the Beast, um espetáculo pirotécnico recebe uma caveira gigante com o monstro do Maiden. É a última canção do set antes do bis, que tem The Evil That Men Do (1988), um dos momentos que a banda entrega um momento mais puramente musical, seguida de Hallowed Be Thy Name (1993), onde Dickinson volta a interpretar e faz o prisioneiro condenado à forca. Depois de duas horas, o espetáculo termina com Run to the Hills (1982), uma das mais antigas do set, com seus riffs entoados por um coro de 100 mil pessoas.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo na época em que a banda foi anunciada no Rock in Rio, o vocalista Bruce Dickinson relembrou do show na primeira edição do Rock in Rio como um dos mais emocionantes de toda sua vida, apesar de lembrar da falta de organização no festival naquela ocasião.

Quando a banda voltou, para o Rock in Rio 2001, eles gravaram um disco ao vivo, dirigido pelo baixista Steve Harris. Em 2013, o Iron Maiden voltou ao cartaz do Rock in Rio, dividido naquele ano com estrelas do pop como Beyoncé e Justin Timberlake.

Ele ainda explicou que a produção do novo show era tão grande que dessa vez Dickinson não viria pilotando o Ed Force One. “A gente não conseguiu colocar o show em apenas um 747.” Deu para ver por quê.

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