O Interpol se leva a sério demais. Fora o baterista Sam Fogarino, que disse querer pegar em um macaco (e virou capa de um grande portal da Internet com a declaração), em todas as entrevistas dadas antes do show da última terça-feira, 11, no Via Funchal, em São Paulo, as respostas eram secas, frias, calculadas – situação que mudou após o show e do carinho do público brasileiro, como pode ser conferido na entrevista do guitarrista Daniel Kessle nesta página. Faltava um pouco de jogo de cintura por parte dos músicos. E até Fogarino, o mais tranqüilo deles, soltou um ?os críticos deveriam lavar os ouvidos? em resposta às constantes comparações da banda com o Joy Division.
Em cima do palco essa seriedade se personifica em Paul Banks. O vocalista de voz grave e quase monocórdica permanece praticamente o show inteiro impassível. Nada de risos, movimentos bruscos, quase nenhuma interação com a platéia – fora os tradicionais ?thank you?, foram poucas palavras e, no momento em que mais soltou o verbo, sua voz forte tornava incompreensível o discurso.
Quem mais se esforçava em entreter o público era o guitarrista Daniel Kessler. Levava a sério o conceito de show em que o músico anda pelo palco, abaixava-se para fazer solos e riffs, ia à frente do palco para causar um frisson na platéia. O baixista Carlos D girava em torno de seu mundo particular e seu aspecto de Edward Mãos de Tesoura e Fogarino garantia a precisão necessária ao som melancólico do grupo.
Mas, pensando bem, nenhum dos quatro ali precisava fazer mais do que isso. Afinal, os quase 3 mil fãs que lotaram o Via Funchal esperavam, com seus corações e almas um tanto emo-góticas, o desfile de canções sobre dor, depressão, tristeza que compõe os três álbuns da banda. E respondeu com entusiasmo e fervor aos versos de Mr. Banks, com gritos histéricos, mãos para o alto, palmas, coro abafando o vocalista em alguns momento, levando a sério seu papel em um concerto de rock.
Há shows em que você vai mesmo sem conhecer muito a banda e volta fascinado (comigo aconteceu com o Arcade Fire). Em outros, apesar de simpatizar com o grupo, saí decepcionado da apresentação (Placebo). Com o Interpol nada muda e ao final do show você continua com a mesma impressão. No meu caso, que o Antics é um baita CD principalmente por apostar em batidas mais dançantes (às quais a platéia reagiu com entusiasmo), o Turn On The Bright Lights é bem legal e tem ótimos momentos (Stella Was a Diver and She Was Always Down, PDA) e o Our Love To Admire é bem fraquinho (ouvi comentários de amigos que bocejaram durante as músicas do último álbum do quarteto).
No final do bis gigante, Banks parou de tocar guitarra em PDA, acendeu um cigarro e encarou a platéia com olhar blasé e galanteador. Enquanto Kessler e D transitavam em seus universos paralelos, o vocalista exalava um ar de dever cumprido. E a intensidade dos brasileiros e sua reação ao show entusiasmaram tanto a banda que os sorrisos em cima do palco eram visíveis e Banks soltou um ?you?re amazing? em agradecimento.
Enfim, o Interpol no palco é um show para fãs, daqueles em que a banda oferece exatamente o que o público quer. Nem mais, nem menos. O que não é ruim. Mas não custa se divertir um pouco às vezes…


