O arrocha vocês dançam, né? As crianças riem, uma delas cantarola, bem baixinho: “Arrocha, arrocha, arrocha que ela…”. Mas a música, agora, é uma valsa, entoada pelo oboé. Lembram do oboé? Ele faz parte das madeiras, primeiro grupo dos instrumentos de sopro de uma orquestra. E depois, o que vem? Tambor? Não, antes do tambor e depois da flauta, do clarinete, do oboé, do fagote?Trompa, arrisca um. Trombone, trompete. Falta um. Aquele grandão, quem se lembra? É aquele que vocês falaram que lembra o Egito… Tumba!, diz um. E outro corrige: tuba! Muito bem. De volta à dança, então. O oboé toca. Quem se habilita? Os meninos? Tímidos demais. As meninas? Elas correm para o centro da sala.

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Meninos e meninas têm 6, 7 anos. Vieram de Santa Cruz Cabrália, cidade de 26 mil habitantes no sul da Bahia. Estão em Trancoso como convidados do MeT, festival de música que ocupou a cidade ao longo da última semana. E participam de aulas de iniciação musical, ministradas pelos músicos do Neojibá, projeto socioeducacional sediado em Salvador. É um dos eixos do evento, que tem também concertos de orquestras (este ano, além do Neojibá, a Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo), de música de câmara (com professores convidados de orquestras como a Filarmônica de Berlim), jazz e música popular brasileira (comandados nesta edição por David Gazarov e César Camargo Mariano).

“O festival Música em Trancoso virou um ponto de encontro para que a gente promova um diálogo com as crianças dessa região”, explica Obadias Cunha, coordenador pedagógico do Neojibá. A proposta original era trabalhar com crianças de escolas de Trancoso, mas greves atrasaram o início das aulas e o evento acabou buscando na região alunos de escolas públicas e de projetos que tem a música clássica como mote – o que se alinha, de certa forma, à proposta do Neojibá. “Fizemos um levantamento que revelou a existência de 22 projetos com esse perfil hoje na Bahia. O que buscamos é uma rede que una todos eles. Integrantes do Neojibá viajam nos fins de semanas para dar aulas nessas comunidades, e nós também recebemos em Salvador músicos que passam alguns dias, uma semana conosco.”

O Neojibá trabalha segundo uma metodologia que privilegia, antes de mais nada, o diálogo entre os artistas. São os próprios jovens músicos da orquestra, por exemplo, que ensinam outros, ainda mais jovens. “É essa troca o que nos interessa, a relação entre os músicos. Para os monitores, é a oportunidade de ter contato com novas realidades e, por meio da atividade de ensinar, eles descobrem muito sobre a própria relação que tem com a música. Para os integrantes desses projetos, o importante é se sentir como parte de um grupo, conhecer colegas mais velhos que eles admiram, que falam a mesma língua que eles.”

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Essa metodologia foi estendida, na edição deste ano do Música em Trancoso, aos artistas da Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo. Alguns de seus integrantes se envolveram nas aulas de iniciação. E boa parte da orquestra aproveitou também o outro aspecto da proposta pedagógica do evento: as masterclasses com os professores estrangeiros.

As informações são do jornal O Estado de S.Paulo

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