Índio legítimo em “Mad Maria”

Luiza Dantas /
Carta Z Notícias
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Fidelis Baniwa tem no sobrenome o nome de sua tribo.

Um dos protagonistas de "Mad Maria" é um índio legítimo. Fidelis Baniwa que traz no sobrenome o nome de sua tribo, interpreta, é claro, um índio na nova minissérie da Globo, que estréia dia 25. Na trama, Joe Caripuna briga com o médico Finnegan pelo amor da pianista Consuelo, personagens de Fábio Assunção e Ana Paula Arósio. Para conseguir o papel de vértice do triângulo amoroso principal na minissérie, Fidelis concorreu com mais 40 candidatos de descendência indígena, num teste em junho passado.

Numa segunda fase, em agosto, passou por uma maratona de provas de figurino e maquiagem, com a equipe da minissérie, no Projac, no Rio de Janeiro. Mas a aprovação final só veio mesmo em setembro. Enquanto passava por todo esse processo seletivo, Fidelis não chegou a se dar conta de que Joe era um dos personagens principais. E só agora, às vésperas da estréia, atentou para o que é ser um protagonista. "Agora estou percebendo onde é que me meti. Ainda bem que não sabia", constata, em tom de brincadeira.

Mesmo que a "ficha" tenha demorado a cair, Fidelis acha que tem condições de fazer bem o papel. "Não fui escolhido por acaso. Fiz testes e tenho uma trajetória como ator", esclarece o índio, de 30 anos. Fidelis morou entre os Baniwa, no Norte do Amazonas, até seus 22 anos. Há oito anos, mudou-se para Manaus e logo depois, em 1998, foi convidado por um amigo ator para participar de uma peça que abordava o universo indígena. Bastou essa primeira experiência para Fidelis se encantar pela profissão e não parar mais. E até hoje se mantém como um autodidata, jamais fez um curso de interpretação. Desde que subiu aos palcos pela primeira vez, Fidelis atuou em diversas peças, participou de um documentário sobre o peixe candiru para a BBC de Londres e, em 2002, do filme "A Selva", de Leonel Vieira. Fez também alguns comerciais regionais e teve até uma rápida passagem pela Globo, em 2004, no elenco de apoio do "Sítio do Pica-Pau Amarelo.

Apesar de ter passado a maior parte da vida na aldeia em que nasceu com atividades como caça, pesca e artesanato , os oito anos morando em Manaus fizeram com que Fidelis se habituasse à vida urbana. Ele não demonstra estranhamento ou deslumbramento com a vida no Rio, onde mora atualmente, nem com o fato de trabalhar na tevê ao lado de atores famosos. Ele aproveita as inúmeras cenas ao lado de Fábio e Ana Paula para aprender o máximo que pode. Fábio, por exemplo, já deu a Fidelis várias "dicas" durante as cenas, como a forma correta de se posicionar diante das câmaras e de impostar a voz. Fidelis não esconde, porém, que adorou ter passado um mês gravando em Porto Velho, Rondônia. "Enquanto estava todo mundo preocupado com mosquitos e malária, eu me sentia em casa", diverte-se.

Para interpretar Joe Caripuna, Fidelis leu o livro homônimo de Márcio de Souza, no qual a minissérie foi baseada, e se preparou durante um mês com a "coach" Paloma Riani, com aulas de interpretação baseadas nos textos de "Mad Maria". A maior preocupação do ator foi construir o personagem sem cair no estereótipo do índio, já que Joe fala o português de forma lenta e pausada. Segundo Fidelis, sua grande dificuldade está sendo gravar a mesma cena inúmeras vezes – algo bastante comum na tevê – sem perder a naturalidade e a emoção. Isso ficou evidente quando ele participou da seqüência em que seu personagem tinha as mãos decepadas. A cena exigia uma forte carga emocional e durou mais de sete horas. "Foi bastante complicado manter a emoção com tantos cortes. Rapadura é doce, mas não é mole", avalia, sem perder o bom humor.

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