Imunes à maldição

Quando os Strokes tomaram o mundo de assalto, há dois anos, a música de pegada guitarreira chafurdava tanto na mesmice que foi aberta uma enorme brecha para a música de samplers e programações eletrônicas fincar sua bandeira no coração da juventude. Mas eis que uma simples bandinha saída dos palcos enfumaçados de Nova York apareceu para dar mais uma guinada na cronologia cinqüentona do rock?n?roll.

Tudo ocorreu graças à troca de arquivos sonoros pela internet. Não havia planos de marketing ou qualquer ação da mesma indústria fonográfica que condena – e persegue – tal prática. Aliás, não havia nem mesmo disco. Sequer um compacto. Os Strokes arrasaram o que veio pela frente como um furacão. Provocaram uma grande febre na comunidade internética, que corria loucamente atrás de qualquer novidade. Atiçou a curiosidade de gravadoras, que passaram a disputar a tapas um contrato assinado com o quinteto.

E o planeta mudou. As guitarras renasceram. A reboque veio um carregamento sem fim de novas bandas e formações descobertas por público e crítica como milhos de pipoca em uma frigideira. Nesta nova era, está por fora quem não corre atrás das últimas novidades surgidas nos confins de qualquer país. Está por fora quem não consegue descolar gravações inéditas antes de seus colegas. Quem espera o disco de sua banda preferida chegar às lojas – importadoras ou aquelas que se restringem às edições nacionais. Está completamente por fora quem não ouviu Strokes, White Stripes, Doves, Raveonettes, Vines, Hives, Libertines, Datsuns, Interpol e mais um monte de novatos que nos últimos anos andaram sobrecarregando os hard disks de usuários de messengers e ICQs.

Expectativa

Expectativa, segundo o dicionário, significa a situação de quem espera uma probabilidade ou uma realização em tempo anunciado ou conhecido. Isso normalmente acontece com os segundos álbuns de um artista revolucionário. Quando o Strokes explodiu, o choque e a surpresa da ruptura foram muito fortes. Por isso, não havia qualquer expectativa com relação ao trabalho do grupo. A estréia em Is This It pôde ser arrebatadora, fulminante. Desde então, o encanto provocado pela banda cresceu na mesma proporção que a curiosidade por novas músicas, procuradas freneticamente na Internet, e obtidas através de toscas gravações extraídas de vários shows. Cresceram também as perguntas “como será o próximo disco?”, “será ele tão devastador quanto o primeiro?”.

O álbum foi concebido entre março a agosto. Em junho, o grupo iniciou as gravações oficiais, no exaustivo ritmo de 15 horas diárias. Toda a pressão em torno do resultado do disco foi tão absorvida pela banda que eles formularam um critério particular para a escolha do repertório. “Nós só tivemos onze músicas. Durante os ensaios, se tocávamos algo que não fosse tão bom quanto a música anterior, simplesmente descartávamos. Não a terminávamos”, confidenciou recentemente o guitarrista Albert Hammond Jr. ao semanário britânico New Musical Express.

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