Imagens em movimento

Curitiba é a próxima parada da turnê internacional do espetáculo 4por4, da companhia de dança carioca Deborah Colker, uma das mais importantes do País. Em cartaz no Teatro Guaíra hoje e amanhã, a partir das 21h, 4por4 é um mergulho nas artes plásticas, interagindo com trabalhos de Cildo Meireles, Chelpa Ferro, Victor Arruda e Gringo Cargia.

O espetáculo tem muito a ver com as turnês internacionais que Deborah faz desde 1996, nas quais aproveita para visitar museus e galerias, “que enchem a sua cabeça de imagens”. “E o que é a dança senão a imagem em movimento?”, questiona. Mas o insight para 4por4 aconteceu quando a dançarina e coreógrafa se aproximou de um dos Cantos de Cildo Meireles, no último dia da retrospectiva que o artista realizou em 2000 no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. “Naquele momento tive certeza que o meu espetáculo teria cantos”, relembra.

E são seis deles em cena – três planos que se encontram, peças importantes e vigorosas, sendo que uma tem a força atenuada por uma fresta por onde passam braços e até corpos inteiros de bailarinos. “O canto é o lugar mais secreto, onde a criança se esconde, onde acontece o sexo inesperado”, explica Deborah, que pôs as bailarinas de vestido longo e salto alto nessa coreografia, que traz movimentos sensuais.

O segundo quadro, Mesa, tem origem numa admiração de geração, já que Deborah Colker acompanha há muito tempo os quatro integrantes do Chelpa Ferro – os artistas plásticos Luiz Zerbini e Barrão, o editor de imagens Sérgio Mekler e o produtor musical Chico Neves. “Essa fusão de referências que há no espetáculo tem tudo a ver conosco. Procuramos criar um objeto para que a Deborah e a companhia pudessem se divertir bastante”, conta Zerbini. Um painel de 12mx14m de Victor Arruda ocupa o chão, e sobre ele os 17 bailarinos dançam ao som de Someday my prince will come (tema de Branca de Neve), numa coreografia ao mesmo tempo erótica e infantil.

Gênios

Depois do intervalo, a inspiração são dois gênios da pintura: o espanhol Velázquez aparece no título, As Meninas, onde duas bailarinas aparecem dançando na ponta dos pés, acompanhadas por Deborah, que toca ao piano uma sonata em lá maior de Mozart. Já o francês Degas inspira justamente esta cena clássica das duas meninas aprendendo a dançar. “Eu tinha muita vontade de botar música ao vivo, e também, de lidar com a ponta dos pés. Juntei as duas numa espécie de dança pura, a música em movimento”, explica a coreógrafa.

A viagem pelas artes plásticas prossegue com citações a Francesco Clemente, Antônio Manuel, Ernesto Neto, Waltercio Caldas, Antônio Dias, Anna Bella Geiger e Cafi. E explora mais o chão do que o ar, mais o estreito que o amplo, perseguindo a filosofia da Companhia Deborah Colker: “Queremos nos conectar com o mundo contemporâneo. E quanto mais conhecimento adquirimos, mais livres e simples o trabalho se torna. Assim, ele fica mais sincero, com menos chances de ser pretensioso e com mais chances de atingir muitas pessoas. Não quero um trabalho para poucos, mas para todos”, arremata.

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