Homem-Aranha 2 toma de assalto os cinemas

Desde o começo do ano, quantas vezes você já viu a cena? M.J. conversa com Peter Parker na lanchonete e lhe pede um beijo para tirar a prova de que ele não a ama. Peter olha nos olhos da amada e vê o reflexo do carro que o vilão Dr. Ock lança sobre ele. Mal tem tempo de atirar-se sobre M.J., para salvá-la, enquanto o vidro estilhaçado espalha-se pela lanchonete e o carro, atirado daquele jeito, provoca o maior estrago.

A partir de hoje, você poderá ver a cena no contexto do filme. Homem-Aranha 2 toma de assalto 652 salas de todo o País, um recorde dificilmente igualável, mesmo num mercado como o brasileiro, formatado para a produção hegemônica de Hollywood. Serão 328 cópias legendadas e 324 dubladas.

Por um momento, esqueça o discurso ideológico anti-hollywoodiano. Homem-Aranha 2 é um filmaço. Tem mais ação, mais humor, mais romance do que o primeiro. Tem personagens ainda mais sólidos e complexos – Peter Parker, cujo alter ego é Spider Man, o Homem-Aranha, Mary Jane, o Dr. Octopus.

“Stan Lee gosta de dizer que o segredo do sucesso do Homem-Aranha está no fato de ser, entre todos os filmes que usam ação e alta tecnologia, aquele que dá mais atenção às relações entre os personagens”, diz Tobey Maguire, que vive, com propriedade, a situação dual de Peter e Homem-Aranha. Tobey Maguire entra sorridente na sala do Sony Studio, em Los Angeles, na qual se realiza a entrevista. Está batendo nos 30 anos, mas tem cara de garoto – perfeita para fazer um herói em transição como Homem-Aranha. No primeiro filme, Peter descobria seus poderes e também que um grande poder acarreta uma grande responsabilidade. No segundo filme, ele radicaliza o sentimento de solidão.

Tobey Maguire é simpático, mas não é exatamente aquilo que se pode chamar de comunicativo. Na maior parte do tempo, é monossilábico. Você faz a pergunta e ele responde – “Sim” ou “Não”. Você insiste na tentativa de arrancar uma resposta mais longa e ele olha com aquela cara de quem está se divertindo. Para fazer o segundo filme da franquia, Maguire ganhou astronômicos US$ 17 milhões, mas sabe que este não é seu salário real em Hollywood. Provavelmente vai ganhar ainda mais para fazer o terceiro da série, Kirsten Dunst, que faz M.J., é outra que não faz o gênero ‘estrela de Hollywood’.”No segundo filme, M.J. ainda está apaixonada por Peter, mas ele agora vive em seu mundo, distante do dela. M.J. freqüenta novos círculos, investe na carreira de atriz. Embora tenha crescido bastante nos últimos dois anos, o sentimento é de sentir-se incompleta, como Peter”, explica.

O mais adolescente e pop dos heróis

Jotabê Medeiros

Poucos heróis mudaram tanto a maneira como os adolescentes interagem com a cultura popular quanto o Homem-Aranha. Em 1965, uma enquete da revista Esquire o registrou superando outros ícones da época, como Che Guevara. “Ele é o meu Mickey Mouse”, diz seu criador, Stan Lee.

Agora, poucos filmes da temporada vão refletir melhor essa interação pop quanto Homem-Aranha 2. É simplesmente irresistível, até para adolescentes profissionais quarentões. No primeiro filme da série, o diretor Sam Raimi explorava principalmente as crises de identidade, tão comuns na adolescência. O vilão tinha dupla personalidade, o Aranha não sabia se surfava nos telhados ou se combatia o crime.

Agora, o cineasta ficou mais à vontade para explorar aquele tipo de humor negro adolescente, as gags bizarras, as piadinhas perversas. A velhinha Tia May (Rosemary Harris) é jogada para os ares pelo vilão Dr. Octopus (Alfred Molina) e se salva enganchando o cabo da bengala na fachada do prédio. Em seguida, é agarrada de novo e jogada de novo, como se o sujeito jogasse peteca de velhinha. Alguém pode imaginar algo mais diabolicamente adolescente?

O dono do jornal Clarim Diário, o inescrupuloso Jonah Jameson (J.K. Simmons), dá um banho como mercenário sensacionalista. Grande a cena em que demonstra afeto pelo seu inimigo, o Aranha, mas logo se recompõe para iniciar nova perseguição ao herói – que, no final, só lhe é útil como notícia ruim.

Há também um lado politicamente correto no filme. Os imigrantes paquistaneses e chineses, asiáticos violinistas de rua e moradores de cortiços, todos ganham dignidade e protagonismo pelas mãos de Sam Raimi. Apesar de ser um filme baseado na dualidade maniqueísta das HQs, nenhum vilão é inteiramente mau e nenhum herói inteiramente bom.

E aqui vai uma previsão audaciosa: a cena de perseguição no metrô já é candidata a um dos melhores momentos dos filmes de ação.

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