Hollywood lança asua versão das férias de Deus na Terra

São Paulo

– Há tempos que Jim Carrey vinha fazendo mais sucesso de crítica que de público. Singular trajetória de um palhaço que começou acusado de exagerar nas caras e bocas em O Máskara e depois provou que era um poderoso ator dramático em Truman Show – O Show da Vida e O Mundo de Andy. O fracasso de público de Cine Majestic colocou o ator na geladeira, da qual ele sai agora com Todo-Poderoso, que estréia hoje em circuito nacional.

A comédia de Tom Shedyac estreou bem nos EUA, mas também não foi um estouro. Sua carreira foi atropelada pelo desenho da Disney (e da Pixar), Procurando Nemo, que também atirou Matrix Reloaded lá para o terceiro ou quarto lugar da lista dos filmes mais vistos.

Todo-Poderoso traz de volta o velho Jim Carrey, careteiro, mas divertido, apesar de tudo. O “apesar de tudo” decorre principalmente do sentido que o diretor Shedyac atribui ao humor. Logo no começo, Carrey, que faz um apresentador de TV, é despedido do emprego.

Somam-se mais dois ou três infortúnios e o herói acha o culpado por tantas desgraças. Só pode ser Deus. O “Todo-Poderoso”, que anda cansado, resolve tirar férias e nisso o filme se assemelha ao superior Deus É Brasileiro, que Cacá Diegues adaptou de João Ubaldo Ribeiro. É uma comparação interessante de ser feita. Em Deus É Brasileiro, o Senhor desce à Terra e é ciceroneado por um tipo bem fagueiro (Wagner Moura) que lhe devolve a confiança na humanidade. Em Todo-Poderoso, Deus (Morgan Freeman) resolve pôr o estressado personagem de Jim Carrey em seu lugar. E o que faz esse Deus americano? Vinga-se.

Espelho

É curioso constatar que, mesmo uma comédia como esta, que não parece feita para o público exigente – as piadas são muitas vezes rasas, há um apelo ao sentimentalismo, próprio dos filmes do diretor Shedyac, que fez o remake de O Pai da Noiva e Ace Ventura, Detetive de Animais (com Carrey) – termina dizendo coisas relevantes sobre a sociedade americana. Todo-Poderoso tem a cara da América de George W. Bush. Representa o país que só consegue resolver suas pulsões pela violência. O que faz Jim Carrey na pele de Deus? Submete ao ridículo seu sucessor no programa de TV, levando o cara a um surto que provoca riso no público.

Com um diretor mais antenado no próprio material, provocaria mal-estar. Shedyac toma o atalho mais rápido: amacia. O desfecho moralizador pode apaziguar as platéias e, nesse sentido, talvez seja responsável pelo sucesso que Todo-Poderoso poderá fazer também aqui. Pode ser bom para a bilheteria, mas não para a reputação de Carrey. Ele é melhor quando vai ao fundo das coisas, com diretores como Peter Weir (em O Show de Truman) e Milos Forman (em Andy).

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