Hoje é o dia de Walter Salles em Cannes

Hoje é o grande dia do cinema brasileiro na história. Sim, O Pagador de Promessas já venceu a Palma de Ouro em Cannes em 1962 (direção de Anselmo Duarte), o que impulsionou o cinema nacional com a criação do cinema novo. Mas, eram outros tempos. Agora, o cinema precisa de dinheiro, de verbas de produtores estrangeiros. Por isso, uma boa aceitação do filme ou uma eventual segunda Palma de Ouro seria fundamental para o cinema nacional, que depois de Carandiru, Cidade de Deus e agora a direção de Walter Salles em Diários de Motocicleta, ganha uma projeção internacional nunca vista antes.

Walter Salles chegou a Cannes na noite de segunda-feira para prestigiar a exibição, na competição oficial, de seu filme Diários de Motocicleta, que acontecerá na manhã de hoje. Na sequência, haverá uma coletiva de imprensa onde estarão também os atores Gael García Bernal, Rodrigo de la Serna, Mia Maestro, o roteirista José Rivera, e, claro, Alberto Granado (o amigo de Che Guevara retratado no filme). Desses, apenas Mia Maestro e José Rivera não participaram do lançamento brasileiro do filme que acumula, em duas semanas em cartaz, 215.734 espectadores, segundo os dados do semanário “Filme B”.

Salles não escondeu sua satisfação com esses números no Brasil – “a freqüência do filme não caiu praticamente nada e continua repercutindo agora nos cadernos de política”, observou o diretor, em uma entrevista concedida nos jardins do Hotel Résidial.

Também mostra-se absolutamente sereno com suas possibilidades de vencer a Palma de Ouro: “Não tenho a menor idéia e acho que este é um exercício que não se deve fazer”. Ele frisou que ouviu falar que a seleção de competidores este ano “está muito forte” e que não teve ainda tempo de ver quase nada.

Assistiu apenas ao filme de Emir Kusturica, La Vie Est un Miracle, não lhe poupando elogios: “Ele tem um completo controle da mise-en-scène.”

Salles acha que um dos fortes concorrentes é 2046, de Wong Kar-wai, já que o diretor apresentou dois grandes filmes em Cannes anteriormente (Happy Together e Amor à Flor da Pele), que foram premiados mas não venceram a Palma e que esta pode ser sua chance.

O diretor brasileiro ficou também contente de saber da repercussão positiva do filme de Michael Moore, Farenheit 9/11, aplaudido de pé por mais de 15 minutos pelo público na sessão oficial. “Moore é um cineasta necessário”, definiu.

Além de Farenheit 9/11, franco favorito para os franceses (que odeiam os americanos) outras produções, como The Ladykillers dos irmãos Coen são candidatos a tal da Palma de Ouro.

Tom Hanks está no filme dos Coen

The Ladykillers, apresentado ontem, é um dos favoritos em Cannes. O filme é um clássico do humor inglês. Joel Coen, o diretor, disse que se inspirou numa antiga comédia inglesa, Ealing, com Alec Guiness, para realizar este. Quando surgiu a idéia de fazer o filme, Joel e Ethan concordaram que não seria interessante ver o filme antigo. Queriam ficar mais livres para recriar o original. Tom Hanks fez questão de não assistí-lo. Ele acha que o humor tradicional inglês pode ser submetido a uma releitura para atender ao gosto do espectador americano atual.

Na história do novo Ladykillers, Hanks, no papel de um respeitável professor de línguas mortas, hospeda-se na casa de uma velha dama afro-americana. A pretexto de que possui um grupo que se dedica à música da Renascença, ele aluga um quarto e o subsolo, que finge usar como local de ensaios, mas, na verdade, é onde seu grupo de malfeitores escava para fazer um túnel e assaltar o cassino em frente. Concluído o plano (e o assalto), a dama descobre e lança um ultimato – ou o grupo devolve o dinheiro ou ela denuncia o quinteto para o pachorrento xerife local. A solução, para Hanks e sua gangue, é, claro, matar a velhinha. Só que não é fácil como parece. Aliás, é difícil demais e o humor vem todo daí.

O dinheiro é o móvel do crime, mas, no final, ele não vale nada para ninguém e termina sendo doado, o que, a se julgar pelo que Michael Moore mostra em seu Fahnrenheit, deve causar arrepios na quadrilha instalada na Casa Branca. O filme de Joel Coen é divertido e permite vários níveis de leitura.

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