Henrique, de Curitiba para a posteridade

A noite será especial hoje no Sesc da Esquina, dentro da programação da 21.ª Oficina de Música de Curitiba. Às 19h, com direito a recital dos professores de renome internacional que participam do evento, será lançado o catálogo temático do compositor Henrique de Curitiba.

Concebido pelas pesquisadoras Liana Justus e Miriam Bonk, vem a ser o primeiro catálogo temático, com um CD incluído, de um compositor erudito contemporâneo no Brasil.

A idéia de registrar o trabalho do compositor, hoje com 69 anos e morando em Londrina, surgiu em 1996, durante as aulas de Metodologia de Pesquisa em Música – cadeira do professor Paulo Castagna no curso de pós-graduação em História da Arte pela Escola de Música e Belas e Artes. “Começamos a pensar no tema para o trabalho de conclusão de curso, e decidimos pelos compositores do Paraná”, conta Miriam.

Dois grandes nomes vieram à mente das acadêmicas Henrique de Curitiba e o Padre José Penalva, considerados os maiores compositores eruditos do Paraná no século XX. “Como o catálogo do Pe. Penalva já tinha sido feito, resolvemos pesquisar sobre o Henrique de Curitiba”, comenta Miriam.

A idéia era criar um catálogo temático que, além da catalogação das obras, reunisse o trecho inicial de cada composição – o que facilitaria a pesquisa, o reconhecimento e o acesso a essa obra. Liana e Miriam decidiram enriquecer o trabalho também com a biografia do compositor, cuja história familiar é de grande importância para a cultura do Paraná. O pai de Henrique, o polonês Tadeu Morozowicz, foi o fundador da Escola de Balé Teatro Guaíra. Os irmãos também são conhecidos: Milena Morozowicz é profissional da dança e Norton Morozowicz é flautista e regente, conhecido no Brasil e no exterior.

Definido o tema, as pesquisadoras procuraram o próprio Henrique de Curitiba. O compositor avisou que o trabalho não seria fácil, pois sua obra estava espalhada por todo o Brasil. Mas elas não se abalaram. Depois de escarafunchar toda a obra do artista em Curitiba, a partir do catálogo da Fundação Cultural, de outras bibliotecas do Paraná e também do acervo do próprio Henrique, elas partiram atrás dos vestígios do paranaense no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Músicos e intérpretes de obras do compositor também cederam algumas das partituras encontradas no catálogo.

Todo o material recolhido foi classificado conforme a formação de instrumentos -coral, solo, para instrumentos de teclado, instrumentos de sopro, de corda, de sopro e de corda com piano, para orquestra de câmera, e assim por diante.

Lei Municipal

O trabalho foi entregue na Belas Artes em 1997 ainda incompleto, mas fez tanto sucesso que as duas decidiram inscrevê-lo na Lei Municipal de Incentivo à Cultura, com a intenção de publicá-lo acompanhado de um CD. O projeto foi aprovado em julho de 2001, tendo seu conteúdo atualizado até aquele ano.

Também foi feita uma tradução dos textos para o inglês, acrescentados textos do próprio compositor, sem falar no CD com 11 faixas de obras de Henrique em formas variadas: coral, orquestra, quartetos e solos de instrumentos. Essas gravações foram gentilmente cedidas por todos os intérpretes. “Nosso objetivo foi permitir que as pessoas pudessem ouvir a obra e conhecer o estilo musical de um dos nossos maiores artistas”, afirma Miriam Bonk.

Ela diz ter realizado um sonho: “Liana e eu gostamos muito de pesquisa. Na arte, isto ainda é pouco valorizado. Deixar registrado alguma coisa é extremamente importante, ainda mais em se tratando de um compositor paranaense, de importância internacional”, completa. Liana Justus ressalta que “sem o incentivo da Lei, a publicação seria impossível. Iniciativas como essa são muito importantes para a preservação da nossa cultura”.

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