Há o que escrever?

Já em 1618, La Bruyere escrevia que tudo já foi dito, pois há mais de sete mil anos existem homens que pensam. Portanto, seria inútil escrever.

André Gide, no entanto, diria mais tarde, pelo início do século passado, que, realmente, tudo já foi dito, mas aconteceu que ninguém escutou, daí a necessidade de recomeçar.

Além do mais, Sêneca, na Epístola VI, nos advertiu sabiamente: “Se me oferecessem a sabedoria com a condição de não a transmitir a ninguém, eu, simplesmente, a recusaria”.

E não se trata de uma posição estimulada pela vaidade. A inteligência de Sêneca já sabia que o conhecimento só tem valor na medida em que é disseminado, o que se verifica com o diálogo e a transmissão.

E, como nos ensinou Epicuro, filósofo grego que faleceu 270 anos antes da Era Cristã: “Em uma discussão filosófica quem perde é o maior ganhador, pois foi ele quem mais aprendeu”.

Eu li Epicuro, mas nunca esqueci das palavras de São Jerônimo, que me acompanham há longo tempo. São Jerônimo, que entrou para a história depois de traduzir a Bíblia para o latim vulgar, me ensinou o seguinte: “Devemos viver como se a cada dia tivéssemos de morrer, mas estudar como se eternamente tivéssemos que viver”.

Até porque aquilo que aprendemos, ou seja, o nosso conhecimento, é a única coisa que ninguém nos tira, ninguém nos furta.

Ainda agora, especialistas estão informando que das peças desaparecidas do museu iraquiano, cada objeto perdido era um raro tesouro.

Curioso. Agora George Bush está convidando o Brasil para auxiliar na reconstrução do Iraque. Reconstruir não será difícil, ainda que possa custar caro. Mas, e os objetos que desapareceram do Museu do Iraque, quem os achará? Certamente ninguém, a não ser os próprios americanos.

P.S

. – “O valor oculto pouco difere da inércia enterrada”. (Horácio, falecido no ano 65 a.C.)

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