Há meio século, Nair Belo interpreta uma personagem

Nair Belo tem a rara habilidade de falar e rir ao mesmo tempo. É desse jeito que a intérprete da divertida Dolores, de Kubanacan, conta que, em 1950, foi expulsa de uma radionovela ao cair no riso no meio de uma cena dramática. Depois, tentou virar locutora mas, logo no primeiro imprevisto, desatou a rir a ponto de não conseguir falar mais nada. “O dono da rádio gritou: ?Tira essa louca daí!?. Foi quando me aconselharam a tentar carreira no humor”, lembra a simpática veterana, que segue o tal conselho há mais de 50 anos.

Kubanacan é a quinta produção em que Carlos Lombardi escreve um papel especialmente para a atriz. Na verdade, Nair interpreta sempre o mesmo tipo – a matriarca “linha-dura”, mas de bom coração – e não faz questão de mudar. “Sou atriz de uma personagem só. Não sei fazer nada diferente”, entrega, dizendo que sequer se acha engraçada. “Mas, se os outros acham, está tudo bem”, arremata.

Depois de quatro anos no ar com Zorra Total, Nair deixou o humorístico em julho, após a morte do amigo Rogério Cardoso, com quem dividia o quadro “Santinha e Epitáfio”. Mas promete retornar, no ano que vem, com um novo esquete. “Devemos criar uma pensão para a Dodô, aproveitando que, na novela, a casa dela já é a própria casa da sogra”, adianta a neta de italianos que, aos 72 anos, é famosa por caprichar nos tapas e tamancadas durante as cenas de briga.

P – Em 52 anos de carreira, você nunca pensou em fazer papéis dramáticos?

R – Faço comédia porque é tudo que sei fazer e não gosto de arriscar. Nessas coisas eu sou meio covarde, tenho medo de dar errado. Além disso, acredito que fazer rir é muito mais difícil do que fazer chorar. Então, que bom que me acham engraçada. Eu não acho, mas se os outros acham… A verdade é que não sou nada versátil e considero uma bênção me deixarem fazer sempre a mesma coisa.

P – Como assim?

R – Sou atriz de um personagem só. Não sei interpretar, criar tipos diferentes… E não adianta me inventar sotaque. Faço a “mama” italiana e pronto! Quando Lombardi me convidou para O Quinto dos Infernos, por exemplo, minha personagem deveria ter sotaque português. Aí falei para ele que não sabia fazer aquilo. Ele disse: “Tudo bem. Vamos criar uma personagem que foge da Itália, vai para a Corte Portuguesa, arrebenta com a ama da Carlota Joaquina e assume o posto”. Em Kubanacan também. Fui logo avisando que não sabia fazer sotaque espanhol e “tasquei” meu “paulistês” na Dodô.

P – É verdade que você usa pregos no sutiã quando está em cena?

R – Nossa, você sabe disso? É verdade, sim. Antes de gravar, eu procuro pelo estúdio três pregos, se possível tortos, para guardar no sutiã. E não adianta me perguntar há quantos anos faço isso ou quem me ensinou porque nem lembro mais! Mas aprendi que dá uma energia boa e, disso, eu não abro mão! O problema é que, com essa crise toda, acho que racionaram o número de pregos na Globo. Está cada vez mais difícil de achar! Às vezes, os funcionários separam para mim, mas aí não vale. Sou eu que tenho de achar!

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