Há 25 anos, uma grande safra de séries brasileiras conquistava o público

Quando estrearam no Brasil, ainda nos anos 50, as séries norte-americanas logo fizeram sucesso. Não importava que os cenários de Bat Masterson e Bonanza fossem o Velho Oeste ou que as vozes dos atores de Dr. Kildare e Batman & Robin fossem dubladas. Não demorou para o gênero ganhar paisagens brasileiras e ser falado em português. Depois de produções bissextas, da extinta TV Tupi, como Alô Doçura!, de 1954, e Vigilante Rodoviário, de 1961, o sucesso de Ciranda, Cirandinha, em 1978, encorajou o então “todo-poderoso” da Globo, Boni, a produzir não apenas uma, mas três novas séries para o segundo horário da linha de shows, na época às 22 h. E foi assim que surgiram, há 25 anos, Carga Pesada, Malu Mulher e Plantão de Polícia. “No começo, acreditava mais no Carga Pesada e no Plantão de Polícia. Dos três, Malu Mulher era o que eu menos levava fé. Surpreendentemente, os outros agradaram, mas Malu foi um sucesso mundial”, avalia o diretor Daniel Filho.

De fato, o seriado Malu Mulher foi vendido para mais de 50 países. Em Cuba, por exemplo, Daniel Filho e Regina Duarte foram recebidos pelo presidente Fidel Castro, um admirador confesso da série. Nela, Regina interpretava Malu, uma socióloga que se separava do marido, Pedro Henrique, vivido por Dennis Carvalho, depois de descobrir as aventuras extraconjugais do sujeito. “A emissora percebeu que, com o aumento do número de separações de casais pelo país, surgia uma nova personagem: a mulher que precisa batalhar sozinha. As coincidências entre ficção e realidade me ajudaram a fazer a personagem e a enfrentar meus próprios problemas”, recorda a atriz que, na época, separava-se do primeiro marido, o engenheiro Marcos Flávio Cunha Franco.

Heróis

A exemplo dos enlatados americanos, os protagonistas das séries brasileiras também tinham um “quê” de heróis. Os de Carga Pesada, por exemplo, os caminhoneiros Pedro e Bino, interpretados por Antônio Fagundes e Stênio Garcia, viraram “porta-vozes” de uma classe até então bastante marginalizada no país. Não por acaso, os atores chegavam a receber quase 200 cartas por mês de motoristas que pediam que eles alertassem as autoridades para a falta de segurança e as condições precárias das estradas. Carga Pesada é um ótimo exemplo de produto que, além de entreter o público, ainda pode alertá-lo para problemas sociais. Infelizmente, os problemas são tantos que o seriado teria de durar uns oito anos para a gente abordar todos eles”, observa Fagundes.

Mas Carga Pesada durou apenas três temporadas. Mesmo assim, fez tanto sucesso que mereceu uma nova versão em 2003. E se depender de Stênio Garcia, ele e Fagundes vão se revezar no volante do caminhão ainda por muitas estradas. O ator nega, inclusive, um suposto desentendimento com o companheiro de boléia. “Continuamos amigos como sempre. Mesmo se não fosse assim, não interferiria no nosso trabalho. Somos profissionais”, esclarece Stênio. Curiosamente, um dos idealizadores do “novo” Carga Pesada também participou das outras séries nacionais. Em Plantão de Polícia, Marcos Paulo interpretava Serra, o editor do Folha Popular que vivia às turras com o intrépido repórter Waldomiro Pena, de Hugo Carvana. Até hoje, Marcos Paulo não esquece das muitas vezes que teve de subir o Morro do Borel, na zona norte do Rio, para gravar o seriado. “O Serra não precisava subir o morro porque era o editor do jornal, mas eu precisava porque era o diretor da série”, brinca.

Ao contrário do que aconteceu com Carga Pesada, Marcos Paulo julga inviável um “remake” de Plantão de Polícia. “A realidade hoje é diferente de 25 anos. Para fazer bem-feito, teria de ser tão realista quanto a versão original e eu não acho uma boa idéia. Ficaria muito violento”, argumenta. Hugo Carvana diverge. Como, aliás, seu Waldomiro Pena sempre divergia do Serra. E ainda dá sugestões para um “remake” da série. “Vamos dizer que o Waldomiro estivesse aposentado, mas que continuasse dando pistas para, quem sabe, um filho dele. Acho que sempre haverá espaço para um Waldomiro Pena na tevê brasileira”, valoriza.

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