Somente a arte pode enobrecer o espírito humano. A arte na sua mais autêntica manifestação: a imitação da vida, e assim como ela, tecida a cada dia, vivida em toda a sua plenitude, isso é o teatro. De todas as manifestações da arte, o teatro é talvez a que mais fascina o ser humano, talvez por poder perceber ali, nas inúmeras personagens criadas, representadas, vividas, suas próprias fraquezas, seus medos, suas inseguranças e, por que não dizer?, suas alegrias e realizações. Essa magia faz do teatro esse universo almejado, sonhado e construído diuturnamente pelos operários da arte, autores, atores, diretores…

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Buscar seu espaço, sua identidade torna-se o grande desafio de todos os que desejam penetrar nesse disputado mundo. Cientes disso, o grupo Fazarte desdobra-se em estudos e pesquisas, na busca de uma linguagem cênica própria e uma forma de criar e recriar que possibilite a manifestação e a inferência total do ator na composição e maturação dos personagens, além de trazer a platéia para dentro do texto, fazendo-a refletir sobre a arte ora representada.

O principal objetivo nessa proposta de trabalho é alcançar as mais diversas cidades e trocar experiências, criando um movimento que amplie as possibilidades de conhecimento da arte além daquelas impostas pela mídia. Um movimento que visa resgatar nas pessoas esse desejo incontrolável de descobrir-se como ser criador, como alguém capaz de encontrar-se consigo mesmo e com os demais na busca de transformar ou mesmo aceitar a realidade que o cerca.

O espetáculo

O espetáculo Entre eles, é o primeiro texto do núcleo de dramaturgia do Grupo Fazarte, que visa falar com as palavras e sentimentos dos atores envolvidos.

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Um texto simples que retrata a decadência de uma família, em meio a vícios morais que corrompem a sociedade atual, servindo como inspiração o teatro de Artaud, Federico Garcia Lorca, a poética de Dostoieviskis nasce o texto encenado pelo grupo.

O texto Entre eles foi escrito com liberdade para transformá-lo. Foi criado para que os atores o recriem, desta forma o experimentalismo é freqüente.

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Desenvolvido a quatro mãos por Marcelo Lopes e Willian Maciel, o texto representa a continuidade de pesquisa na busca de uma linguagem própria. Criado para que pudesse ser constantemente refeito, recortado, repensado e reescrito. Ou seja, o desenvolvimento de um trabalho integrado, entre o teórico e o prático, entre o autor e o ator.

O espetáculo se passa na velha casa onde mora o Pai e Alexi, um pouco ao longe da cidade. Um lugar onde tudo que acontece fica apenas entre eles, que vivem na casa, o irmão mais velho retorna após muitos anos para cobrar um dinheiro devido pelo pai, que se nega a pagar, deixando-o muito nervoso.

O irmão mais novo se vê entre o pai e o irmão, tendo que, de certa maneira, tomar partido de um dos lados. no transcorrer da peça Alexi se mostra como realmente é.

Nesse cenário, a imagem de duas mulheres, mãe e amante, desses homens, desencadeia várias mágoas e desentendimentos, enquanto o trágico fica presente todo tempo. Três figuras sob o mesmo teto, Mite, Alexi e o Pai, presos inextricavelmente num jogo de relações familiares.

Criaturas ambíguas, mal-acabadas, patéticas, que só fazem sentido juntas, em conflito. Numa história onde o tempo não passou e os traumas insepultos apodrecem num canto da casa, essas criaturas travarão o último embate e que talvez as purifique e as liberte.

Fortalecem-se no amor e no ódio, os elementos substanciais de toda trama, mas que na verdade implicitam a vontade maior desses quase-homens: o desejo desesperadamente lúcido de sobreviver.

O grupo

"O que mais nos impressiona nas técnicas do Arco e Flecha é que tem como objetivo nem resultados práticos, nem aprimoramento do prazer estético, mas exercitar a consciência, com a finalidade de fazê-la atingir a realidade última." (Eugen Herringel, A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen).

A busca por uma consciência de trabalho tão minuciosa como as técnicas orientais são as metas do Grupo Fazarte, que estuda as minúcias da arte de representar com um grande afinco.

Nessa trajetória o grupo passou por diversas vertentes do teatro, com os estudos primários de Constantin Stanislavski, a percepção do teatro de Bertolt Brecht, duas luzes que ainda iluminam o processo criador do grupo.

Nesse período o grupo participou de diversos festivais, sempre com resultados satisfatórios; o Fazarte tem como finalidade em seu trabalho se firmar como grupo de pesquisa. Chega a hora de o grupo buscar sua identidade, e nesse momento decide montar seu núcleo de dramaturgia, um algo a mais para que sua ideologia no campo do teatro seja alcançada. Com a liberdade de criar junto com os atores textos que sejam a cara do Fazarte e a possibilidade de recriar a todo momento pondo ao lado autor, ator e diretor, traz algo a mais à cena.

Conciliando a esse trabalho técnicas corporais, como a Bioenergética, a técnica de Alexander, para complementar as possibilidades dos atores.

Sendo o objetivo final um representação mais orgânica da vida do espírito humano, em público e em forma estética… essa frase resume o anseio do Grupo Fazarte, e a finalidade de seu trabalho e suas pesquisas.

Fringe- 2006

Ficha Técnica
Autor: Marcelo Lopes e Willian Maciel
Direção: Willian Maciel
Assistente de Direção: Marcelo Lopes
Atores: Ivo Nascimento
José Sarasvati
Iluminação: Marcelo Sanches
Cenário e Figurino: Willian Maciel
Realização: Prefeitura Municipal de Macatuba

Proposta de encenação

No processo de criação do espetáculo, várias impressões serviram de base para o trabalho, sendo a experiência adquirida em dirigir ao lado de José Renato (um dos fundadores do teatro Arena) uma das mais importantes.

Filtrando essas informações e inserindo uma ótica própria conduzo a direção de uma maneira não realista, dando possibilidades para que surja o mais puro dos personagens, mostrando sua verdadeira forma.

Com uma atenção ao corpo, e suas possibilidades, me aproprio de técnicas como a da Bioenergética, dando aos atores a condição de criar suas formas estéticas com a verdade de suas experiências anteriores e adquiridas nos ensaios.

Um espetáculo intimista, onde o público se sente à vontade em questionar as personagens e suas atitudes.

Podendo ao final de cada ensaio ou apresentação haver transformação tanto das personagens como também de quem as assiste, a atmosfera do espetáculo nos conduz a sentirmos várias sensações.

Num questionamento constante, em busca da natureza real desses seres, o espetáculo mostra sempre haver possibilidades enes de ações e reações desses personagens, tornando cada apresentação uma nova descoberta da sua vida interior, e uma surpresa a cada passagem de cena.

Com essas criaturas sempre por se completarem, segue a máxima de Peter Brook, a busca por um teatro vivo onde as ações continuam fervilhando interiormente nos atores e nos personagens.?