Golpe de mestre

É difícil saber como o Jáder, papel de Chico Díaz em Paraíso tropical, dará continuidade às suas falcatruas na novela. Mas é justamente o fato de desconhecer o futuro da personagem que interpreta o que mais seduz o ator. Com uma carreira mais longa no cinema do que na tevê, Chico se anima com as possibilidades que a gravação de um folhetim traz para o profissional. ?Em uma obra aberta, a gente precisa deixar ganchos para que o autor alimente e realimente a própria história. É um jogo de esconde-esconde que faço com o autor?, explica.

Na trama de Gilberto Braga, Chico encarna um cafetão que protagoniza cenas picantes com a principal prostituta da novela, Bebel, vivida por Camila Pitanga. Aliado a Olavo, vilão defendido por Wagner Moura, Jáder apronta inúmeras ciladas para o mocinho Daniel e para quem mais for preciso. Um papel como esse poderia parecer pesado demais aos olhos do público. É aí, no entanto, que o ator se utiliza da experiência adquirida em seus mais de 25 anos de carreira e acrescenta um toque a mais ao personagem. ?Tento dar uma faceta gaiata ao Jáder e não puxar para ele a responsabilidade de ser o mau. A situação em que ele vive é que é ruim, uma armadilha para sua própria vida?, argumenta. Sempre com a preocupação de tornar crível o que o autor propõe, Chico acredita que é importante o ator adicionar algo a mais em qualquer trabalho. ?A função do intérprete é ler o que está escrito e colocar matizes próprias. Se fosse um outro ator, seria completamente diferente?, defende.

Por um bom tempo, os vilões perseguiram Chico Díaz na televisão. Com vontade de experimentar outras coisas e fugir desses papéis, ele se viu obrigado a recusar inúmeros convites. ?Estudei muitos anos e achei que deveria ter a rédea da carreira nas minhas mãos?, enfatiza. Com uma imagem muito respeitada entre os profissionais do cinema nacional, foi se dedicar à sétima arte, que dava a oportunidade de viver uma infinidade de tipos. Além de muitos personagens diferentes, ganhou diversos prêmios também.

Depois de muitos ?nãos? ditos à tevê, Chico se perguntou: ?Porque não voltar com toda a bagagem que adquiri??. E Gilberto Braga, depois de muita conversa e uma negociação que durou meses, conseguiu convencê-lo a integrar o elenco da novela de horário nobre, com um grande personagem. ?Tenho total abertura com o Gilberto e confio muito no texto dele?, justifica.

E talvez seja o toque de malícia que o ator acrescentou ao seu papel que faz as pessoas nas ruas agirem de maneira diferente com ele hoje em dia. Pois Chico recorda que, na época em que fazia o algoz Clemente de Força de um desejo, em 1999, ouvia do público que estava ?pegando pesado?. ?Agora é diferente porque não estou fazendo só o bandido. Apesar de ele ser um safado, existe uma simpatia pelo Jáder?, afirma o ator. Segundo ele, essa capacidade de dosar as características de um personagem surge mesmo é com a maturidade na profissão. ?Agora tenho sabedoria para deixar a figura que incorporo um pouco mais leve, mas mantendo a credibilidade?, analisa, ao lembrar também que a sintonia entre ele e sua principal parceira em cena, Camila Pitanga, contribui para a boa repercussão junto aos telespectadores. ?No aeroporto de Manaus fui surpreendido por várias pessoas dizendo: u-hu, pegando a Camila Pitanga, hein?!?, conta, aos risos.

O arquiteto Chico Díaz foi ?engolido? pela atuação. Isso mesmo, quando ainda era universitário e se debruçava em cima da prancheta, Chico começou a fazer teatro, gostou da experiência e foi convidado pelo diretor Sérgio Rezende para participar do filme O sonho não acabou. Depois do convite, em 1982, ele nunca mais se afastou do cinema. São 54 filmes, com personagens de muita repercussão e parceria com grandes diretores, como Nelson Pereira dos Santos, Cacá Diegues e Cláudio Assis. Entre os mais comentados filmes de sua carreira estão Gabriela, cravo e canela, Matadores e Amarelo manga. Se não bastassem tantos trabalhos no currículo, Chico também coleciona prêmios. ?Fico feliz porque tenho os três principais do cinema brasileiro: Gramado, Brasília e Recife?, comemora orgulhoso.

Sempre lembrado pelos principais nomes da produção cinematográfica brasileira, o ator acredita que ?só plantou o que colheu?. Na época em que pouca gente acreditava na cinematografia pernambucana, ele apostou e filmou, por exemplo, o curta-metragem Cachaça, de 1995. ?Acho que fui chamado para tantos longas porque fiz muitos curtas em uma época que ninguém filmava?, opina o ator, ao confessar que adora um ?set? e fica emocionado ao ver toda uma estrutura ser montada para dar origem a um filme. 

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