Giovanna Antonelli: ?Eu não
conseguia nem dormir.
Fiquei mergulhada nos livros?.

Giovanna Antonelli estava saindo de férias quando foi convidada para viver Anita Garibaldi na minissérie “A Casa das Sete Mulheres”. Num encontro com o diretor Jayme Monjardim, a atriz ficou sabendo que sua personagem seria a famosa guerreira, de quem ela não conhecia nada além do que se costuma aprender nos bancos escolares. Uma semana depois, Giovanna era uma verdadeira especialista na trajetória da catarinense que, em pleno Século XIX, abandonou o marido para acompanhar Giuseppe Garibaldi na luta revolucionária. “Minhas férias acabaram. Eu não conseguia nem dormir. Fiquei mergulhada nos livros, nas pesquisas. Quando encontrei novamente o Jayme, já estava cheia de idéias”, conta Giovanna, em tom frenético.

A ansiedade e a sede com que mergulhou no universo de Anita ilustram bem o modo de ser e de atuar de Giovanna. Ao se deparar com uma nova personagem, a atriz não descansa enquanto não lhe descobre a essência, o espírito e os gestos. Interpretar pela primeira vez uma personagem real instigou ainda mais o furor investigativo da atriz. “Gosto de ver a foto do vestido de casamento da Anita, a capelinha onde ela entrou, o quarto onde ela dormia, a fonte onde se encontrou pela primeira vez com Garibaldi”, explica, com jeito de criança curiosa. O cuidado, no entanto, não se reflete em qualquer tipo de preciosismo com a composição. Mais do que reproduzir a aparência e o modo de agir de Anita, Giovanna espera mostrar sua substância. “Não quero andar como ela, me mexer como ela, mas me deixar contagiar por seus ideais e transmiti-los ao público”, revela, deixando clara sua admiração.

Descontraída, a presença de Giovanna desfaz qualquer idealização da figura da estrela. Com maquiagem discreta e os longos cabelos de tempos em tempos presos num coque improvisado, ela faz questão de encarar a personagem com a mesma naturalidade com que enxerga a profissão. “Ela não trouxe nada para a minha vida. Tudo o que faço aqui é um processo de composição que termina quando saio daqui”, afirma, com sinceridade desconcertante.

P – Viver pela primeira vez uma personagem real mudou o seu processo de composição?

R – É uma coisa impressionante interpretar uma mulher que já existiu. Sem dúvida, é diferente de tudo o que já tinha feito. Embora eu não tenha a pretensão de ser o que ela foi, quero passar para as pessoas a essência do que ela era. Meu papel é me contagiar com o espírito dela e passar isso para o público: o espírito de uma mulher à frente de seu tempo. Em 1835, uma mulher abandonar o marido e ir lutar por um ideal e por um grande amor é realmente uma atitude de poucas.

P – Como você se aproximou deste “espírito” da Anita?

R – Cada ator tem um jeito próprio de construir um personagem, de se achar no universo de um personagem. Eu tenho um jeito particular: gosto de compor através das pequenas coisas, que parecem insignificantes. Eu tento descobrir um cheiro, uma música, um elemento para cada personagem. No caso da Anita, teve cavalo, espada, boleadeira, que é um instrumento utilizado para laçar o gado, o convívio nos Pampas. A Anita foi chegando até mim através de todos os elementos que os diretores me deram.

P – Você acha que o público pode rejeitar a Anita em função do romance entre Garibaldi e Manuela?

R – Acho que as duas relações são tão diferentes que as pessoas vão ter uma grande surpresa. Eles se amam de maneiras bastante distintas. A relação entre o Garibaldi e a Manuela é mais sublime. Com a Anita é uma coisa mais carnal mesmo. E o Garibaldi vai amar de verdade aquelas duas mulheres. Ele não deixa de amar a Manuela, mas a mulher da vida dele é a Anita. Acho que é pela identificação na luta pelos mesmos ideais, na busca pelas mesmas coisas. Eles são como duas metades que de repente se descobrem.

P – Desde a Capitu, você tem interpretado mulheres fortes. Como você compara as três personagens?

R – Sempre que eu falo da Jade, digo que era uma mulher forte, que não aceitava os preconceitos. A Capitu também era assim. Ela levava a vida dela, sem dar bola para o que as pessoas pensavam. E agora vejo que com a Anita era a mesma coisa: uma mulher que larga tudo por um ideal, que corre atrás de seus sentimentos. Coincidentemente, fiz três personagens que tinham estas características de mulheres fortes e determinadas, embora sejam completamente distintas. Se for para pegar um ponto de comparação entre as três, acho que a determinação é o que as une, e é uma característica muito forte da minha personalidade também. Quem sabe eu não levo isso inconscientemente para as minhas personagens?

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