George Clooney e Catherine Zeta-Jones estrelam comédia

São Paulo

– No segundo encontro entre os personagens de George Clooney e Catherine Zeta-Jones em O Amor Custa Caro, que entra em cartaz hoje nos cinemas, o advogado de sucesso, especialista em divórcios litigiosos, convida a ex-mulher do cliente que defende. Catherine quer tirar o máximo dinheiro possível do homem com quem esteve casada durante cinco anos. Clooney vai impedi-la, numa manobra de última hora no tribunal. Mas isso vai ocorrer depois e agora é óbvio que existe uma química, uma atração entre eles. Recitam versos de peças de Shakespeare.

O diretor Joel Coen e seu irmão, roteirista e produtor, Ethan, não perdem uma boa piada. A referência ao filme de Soderbergh é só uma perfumaria. A frase quente é quando Clooney pede dois tornados e pergunta se Catherine é carnívora. A resposta vem célere: “E como!”. Catherine, como Clooney, é uma predadora. Derrotada por ele, vai armar uma engenhosa vingança.

A rigor, na sua manifestação mais simples e essencial, o novo filme dos irmãos Coen é isto – uma história de vingança servindo a uma reflexão sobre um tema velho como o cinema, a guerra dos sexos. Se é velho, o que faz a graça e até a novidade de O Amor Custa Caro? É um conjunto de fatores que inclui o diálogo brilhante – taco no taco -, o brilho dos atores e, claro, a esperteza e inteligência da direção. Talvez se deva definir O Amor Custa Caro, já que estamos nos domínios do humor, como o filme mais “marxista” dos irmãos Coen.

Marxista no duplo sentido. O de Groucho, rei do humor verbal, e o do velho Karl, já que a corrida, aqui, é pelo dinheiro e o conceito marxista da mais-valia faz-se presente. Passa pelo corpo de Catherine, que vira um objeto do desejo de Clooney. Não representa pouco o fato de ele ser um advogado declaradamente capitalista, que chega a criar um dispositivo legal chamado “a cláusula de Massey” (é o nome do personagem) para favorecer os ricos na hora da partilha dos bens.

Aliás, com a cláusula Massey não existe partilha e os ricos ficam protegidos da ofensiva das cavadoras de ouro. Quer dizer – protegidos em termos, pois com uma predadora como Catherine (no filme, Marilyn), os ricos e poderosos estão sempre descobertos, como Massey/Clooney vai descobrir na pele.

Era Bush

Talvez seja excessivo querer ver em O Amor Custa Caro um subtexto sobre a era George W. Bush, mas a verdade é que ele existe e mais dois fatores devem ser considerados: 1) George Clooney foi talvez o primeiro astro a manifestar-se contra a guerra no Iraque e a manter a opinião mesmo sob o risco de ser considerado antipatriótico; e 2) os irmãos Coen estão longe de ser republicanos, tendo até um prazer perverso em expor o ridículo dos republicanos sulistas (o milionário texano interpretado por Billy Bob Thornton é a prova). Tudo isso é relevante, mas o bom mesmo é a forma como Joel e Ethan (re)criam velhos códigos hollywoodianos.

Aqui, o espírito é o das velhas comédias sobre casais, só que mais virulentas e descaradamente sexistas do que aquelas que diretores como George Cukor, George Stevens ou Gregory La Cava realizavam na Hollywood dos anos de ouro. Na tentativa de recriar um estilo já ultrapassado, os irmãos Coen cometem o que pode ser considerado uma transgressão, mas o espectador espera – o amor tudo vence.

Há, porém, uma pirueta final, um ataque à sociedade midiática (da imagem). O Amor Custa Caro pode ter o invólucro de uma comédia romântica, mas está longe de ser babaca. Afinal, é um filme dos irmãos Coen. Com a cumplicidade de Clooney, com seu sorriso perfeito – ironizado o tempo todo -, e as curvas de Catherine, uma mulher nota 1000, fica melhor ainda.

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