Fúria de Titãs 2 deve agradar, mas fica devendo

Existem fenômenos no cinema que são de difícil explicação. Como alguém poderia explicar, por exemplo, que filmes massacrados pela crítica poderiam render boas bilheterias? Um, entre tantos exemplos, é o remake Fúria de Titãs, de 2010. Mesmo com a maior parte do público torcendo o nariz para a jornada do semideus Perseu, para derrotar a temível criatura conhecida como Kraken, o filme foi uma das 10 maiores bilheterias do ano, com quase US$ 500 milhões arrecadados no mundo inteiro. Cifras para ninguém botar defeito. Com estes números, ficou claro que a produção teria uma sequência. Porém, ficou a pergunta no ar: os erros anteriores seriam repetidos?

De certo modo, sim. Ainda que seja mais objetivo e divertido que seu antecessor, Fúria de Titãs 2 deixa certa frustração no ar, pois a premissa do longa, que é boa, poderia ser melhor explorada. Trazendo novamente o ator australiano Sam Worthington para dar vida a Perseu, a aventura se passa 10 anos após o triunfo do semideus ante ao Kraken e a Hades, o deus guardião do submundo da mitologia grega. Levando uma vida pacífica de pescador ao lado do filho, Perseu descobre que terá novamente que empunhar a espada para salvar o mundo de uma ameaça ainda mais terrível: Cronos, o mais poderoso dos titãs e pai dos deuses Zeus, Poseidon e Hades, está retornando ao mundo mortal, ameaçando a existência de todos.

Apostando bastante em uma linguagem de videoclipes, com cortes a todo instante, o filme pode deixar o espectador um pouco confuso para entender o que está acontecendo na tela. Às vezes não sabemos com o que o heroico Perseu está lutando, muito menos se está apanhando ou batendo, como, por exemplo, a luta contra a criatura conhecida como Quimera e no duelo no labirinto contra o Minotauro. Justamente quando aposta em algo menos frenético, as cenas de ação acabam sendo ótimas, como na batalha contra os ciclopes.

Outro problema que poderia ser muito bem solucionado está no roteiro e na direção. O primeiro, por exemplo, poderia limar diálogos bestas e situações previsíveis. Todavia, perto do roteiro do filme anterior, soa muito melhor, sendo mais objetivo e não perdendo muito tempo com encheção de linguiça. O diretor, o sul africano Jonathan Liebsman, cujo currículo não é dos mais empolgantes (do fraco O massacre da serra elétrica: o início, e do razoável, mas bestinha, Invasão do mundo: batalha Los Angeles), não conseguiu dirigir os atores. Repare, por exemplo, no ar sempre aborrecido de Perseu. Em certos momentos, fica difícil acreditar que o futuro da humanidade esteja seguro nas mãos de alguém que parece não dar a mínima. Worthington, que é um bom ator, pareceu pouco à vontade na pele do protagonista. Liam Neeson, como Zeus, soa como se tivesse atuado no automático, assim como a bela Rosamund Pike, no papel da rainha Andrômeda. Édgar Ramírez, então, soa totalmente burocrático como Ares, o deus da guerra. Menos mal que Bill Nighy (o deus caído Hefesto), Toby Kebbel (o semideus Agenor) e Ralph Fiennes (Hades) conseguem se sobressair. Os dois primeiros pelo alívio cômico e o segundo por dar vida a uma criatura que lida com a morte e que carrega todo o peso disso. Isso sem falar em algumas invencionices desnecessárias. Por exemplo, qual a necessidade do emprego do plano plongeé (onde a câmera focaliza a ação visto de cima para baixo) em um determinado momento do longa, uma vez que não havia necessidade de usar mão deste recurso?

O ponto alto de Fúria dos Titãs 2 é o emprego da computação gráfica. Bem bolados, eles dão vida a estas criaturas fantásticas. Os já citados ciclopes são uma prova disso. Cronos também usa mão de um ótimo recurso visual, assim como o labirinto do Minotauro.  Mas será que não valeria a pena usar parte deste recurso financeiro para a realização de melhores roteiristas ou de um diretor? De nada adianta ter, em mãos algo tão grandioso se os responsáveis pelo filme não conseguem executa-lo.

Embora tenha bastantes defeitos, Fúria dos Titãs 2 deve fazer uma boa renda nos cinemas, pois, apesar de tudo, é esperto o suficiente para não se levar a sério demais. Para quem gosta do cinemão pipoca, o filme tem tudo para ser um bom programa. Só não espere lembrar direito do que viu na tela no dia seguinte.

Voltar ao topo