Formação do leitor envolve escola e família

Em geral, as escolas mantêm bom nível de leitura nos diferentes estágios de ensino, porque o aluno é obrigado a ler. A escola também trabalha com textos escritos e pesquisas para avaliar o estudante, mas quando ele sai da escola e a leitura não é obrigatória, na maioria das vezes o processo é interrompido. É nesta hora que é mensurada a consistência da formação do leitor.

Em decorrência disso, no Brasil, cresce o número de analfabetos funcionais, que são aquelas pessoas alfabetizadas e que teriam condições de ler e entender textos, ampliar a cultura geral, mas não o fazem. Essa é uma situação grave.

Mas há também outras conjunturas perversas. Muitas crianças não completam o ciclo de estudos, porque precisam trabalhar. Em casa, o contexto não favorece o trabalho escolar. Os professores estão se formando em instituições de nível deficitário. Essas barreiras acabam prejudicando os resultados. Por isso, o nível de exigência na aprendizagem tem que aumentar em todos os graus.

É determinação do Ministério da Educação que, a partir deste ano, os cursos de Engenharia ofereçam, obrigatoriamente, programa de aprendizagem relacionado à Comunicação e Expressão, isto é, uma disciplina voltada à produção e recepção (leitura) de textos.

As empresas também poderiam realizar experiências, promovendo a leitura entre funcionários e seus familiares. A Igreja e os políticos precisam se envolver mais nessa questão, se quiserem mudar o atual cenário educacional e, conseqüentemente, melhorar a cidadania, a cultura, a educação e, por decorrência, a política e a economia. Se houver políticas de estímulo à leitura, seguramente, toda a população vai se beneficiar.

A imprensa escrita, radiofônica e televisiva tem papel fundamental a desempenhar. Um ator que se apresenta lendo algum livro de literatura durante a novela ou um âncora de rádio fazendo referência a determinado livro passa a criar e estimular novos leitores. Na Europa, há programas de rádio com leituras de poemas, romances e peças teatralizadas. Isso energiza a sociedade, sobretudo a juventude.

É compreensível que algumas dificuldades de leitura têm parcela de culpa no processo de colonização. Durante três séculos, de 1500 a 1800, a população esteve acostumada à cultura da oralidade. A imprensa só chegou no Brasil no século XIX, precisamente em 1808, com o jornal Correio Braziliense, editado por Hipólito José da Costa, impresso em Londres, Inglaterra. Outra questão diz respeito à oposição perniciosa do texto. Para muita gente, a imagem é fácil de ler e entender, enquanto escrever e ler textos aborrecem, são tarefas trabalhosas e chatas. Essa concepção preconceituosa prejudica o texto escrito. Há quem admita que a escola aborrece e tudo o que está fora dela é agradável.

Somados à falta de leitura, dois outros problemas apresentados pelos alunos são o desinteresse e a indisciplina, conseqüência da forma como as crianças vêm sendo educadas ou deseducadas. A falta de autoridade materna, paterna ou familiar cria pessoas indisciplinadas e sem limites.

Marta Morais da Costa

é escritora, professora e diretora da área de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

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