Foo Fighters começa temporada brasileira em Porto Alegre

Diz-se muito por aí: Dave Grohl é o sujeito mais legal do rock. O jeito brincalhão do vocalista do Foo Fighters, o riso fácil, tudo parece comprovar a teoria de fãs do grupo. O que acontece, na realidade, é que o músico decididamente é daqueles que amam o que fazem. Difícil encontrar, sobre o palco, alguém capaz de demonstrar a alegria de plugar o instrumento nos amplificadores com o volume máximo e gastar litros de suor em uma apresentação empolgante. Para o Foo Fighters, isso é primordial. A diversão, deles e nossa, vem em primeiro lugar.

Estreando em Porto Alegre, na noite desta quarta-feira, 21, a banda mostrou que, mesmo após 20 anos de estrada, a performance deles é uma grande celebração da música. Melhor para os fãs, 30 mil pessoas que lotaram o estacionamento da FIERGS, no bairro Sarandi, ao norte da capital gaúcha, e ganharam em retribuição quase três horas de show, litros de suor e um sempre simpático e bem-humorado Dave Grohl.

A apresentação na capital do Rio Grande do Sul marcou o início da nova turnê do grupo pelo Brasil, a primeira na qual o Foo Fighters não precisou dividir a atenção com ninguém. Nas vezes anteriores, em 2001 e 2012, a banda participava dos festivais Rock in Rio e Lollapalooza. Na primeira empreitada solo, o grupo testou os limites do novíssimo disco, Sonic Highways, o mais ousado da carreira da banda, conceitualmente falando, gravado em oito cidades dos Estados Unidos, buscando inspirações locais.

E foi com Sonic Highways, através da canção de abertura do álbum, Something For Nothing, que Grohl e companhia deram início à apresentação, às 21h21, com seis minutos de atraso com relação ao horário marcado. Algo perfeitamente aceitável quando se leva em consideração que a banda só deixou o palco às 0h07, quase três horas depois.

A boa receptividade de Something For Nothing, ovacionada desde que as primeiras notas da guitarra de Dave Grohl foram dedilhadas, e extasiada no momento do refrão, comprova que crítica e público nem sempre podem ter a mesma opinião. O novo disco foi considerado mediano por jornais, revistas e sites especializados, mas, diante dos fãs gaúchos, canções como Congregation e Outside, que vieram em outros momentos do show, foram recepcionadas como hits dos 20 anos de história da banda.

“Vocês são barulhentos. Eu gostei”, disse Grohl, logo ao início da performance, extravasando a tensão inicial com um sorriso genuíno. “Vamos tocar por muito tempo. É a nossa primeira vez aqui e temos 20 anos de música para mostrar.”

Em 2015, o Foo Fighters comemora duas décadas de carreira, desde que um desolado Grohl gravou, sozinho, as faixas do disco de estreia da banda, um ano após perder o amigo e líder da antiga banda, Kurt Cobain, do Nirvana. Na época, foi questionado sobre deixar o posto de baterista para assumir a guitarra e os vocais. Hoje, sabemos: Dave Grohl fez o certo.

E o tempo só ajudou. Curou as feridas do hoje vocalista e colocou o Foo Fighters como uma das maiores bandas de rock mainstream na atualidade. Uma banda com uma identidade sonora muito própria, com gosto por refrão explosivo e gritado, e perfeita para agitar multidões, como foi testemunhado na FIERGS.

Grohl prometeu revisitar a carreira, “até o nosso nono disco”, brincou ele, já que o grupo tem oito álbuns na discografia. Nas canções com patamar de hit, talvez apenas Big Me tenha sido a ausência sentida, mas sua presença era completamente descartável diante de tantos outros sucessos. E eles estavam lá: The Pretender, Learn To Fly, My Hero, Walk, Monkey Wrench, Times Like These, All My Life, Best of You e Everlong – as duas últimas fecharam o show. Todos os discos foram lembrados, mesmo que com músicas longe de serem um grande sucesso popular, caso de Skin and Bones, executada no momento acústico e intimista.

A apresentação do Foo Fighters pode ser dividida por partes. A primeira, Grohl e banda tocam quase sem intervalo para bate-papo com a plateia. “Em alguns momentos vamos mostrar uma música depois da outra. Em outros, vou conversar um pouquinho”, explicou o vocalista. Depois, com ele ao violão e sem a presença dos outros músicos, o Grohl promove uma sessão acústica. Em meio a execução de Times Like These, os integrantes do Foo Fighteres se juntam a ele, em um palco menor, montado em meio ao público.

É ali que o grupo parece mostrar gostar definitivamente do que faz. “É agora que vamos nos divertir”, disse Grohl, antecedendo a série de covers que foram desde uma encantadora versão de Daft Punk is Playing In My House, do LSD Soundsystem, até Miss You e Under Pressure, de Rolling Stones e Queen. O destaque é de Taylor Hawkins, baterista do grupo, que deixa as baquetas para o líder da banda e assume o microfone. “Bateristas que cantam? Credo”, brincou Grohl.

Por que uma banda com 20 anos de estrada “desperdiça” tempo com versões de de outras músicas? Pela diversão, é claro. Dave Grohl pode ou não ser o sujeito mais legal do rock, mas, sim, um dos mais sortudos. Ele sabe disso. E quer dividir a alegria que sente sobre o palco com todos – mesmo 20 anos depois.

Como nota negativa, a estrutura do estacionamento da FIERGS deixou a desejar.

Chegada e saída tiveram trânsito carregado pela falta de vias de acesso. O sistema de som montado ali fez com que, em várias oportunidades, o público que ficou para trás, não conseguiu ouvir o que era tocado no palco.

No Brasil, o Foo Fighters passará por São Paulo (sexta, no Morumbi), Rio de Janeiro (domingo, no Maracanã) e se despede em Belo Horizonte (próxima quarta, na Esplanada do Mineirão).

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