Filosofia e arte

Professor na Universidade de Paris, o filósofo Alain Badiou entrelaça sua cátedra e a arte em Pequeno manual de inestética (Editora Estação Liberdade, 192 páginas). O entrelaçamento proposto foge dos esquemas clássicos e inspira-se no poeta Fernando Pessoa. “A filosofia do século XX – indaga Badiou – conseguiu, ou soube, colocar-se à altura de Fernando Pessoa?” A resposta, segundo ele, é negativa. Isto porque a arte, diante da análise dos filósofos contemporâneos, sempre foi analisada sob o ponto de vista de Platão, que em sua República exilou a poesia.

Observa o professor: “Se Fernando Pessoa representa, para a filosofia, um desafio singular, se sua modernidade ainda está mais à nossa frente, e, sob certos aspectos, ainda se encontra inexplorada, isso ocorre porque seu pensamento-poema abre um caminho que consegue não ser nem platônico, nem antiplatônico. Pessoa define poeticamente, sem que até hoje a filosofia lhe tenha dado o devido valor, um local de pensamento propriamente subtraído da palavra de ordem unânime da derrubada do platonismo.

Outra fonte da “inestética” de Badiou é Samuel Beckett, o dramaturgo do absurdo. Sobre ele, considerações sobre a palavra: “Para Beckett, a coragem vem do fato de as palavras terem tendência a soar verdadeiras. Uma tensão extrema, que talvez seja a vocação de Beckett escritor, resulta de a coragem prender-se a uma qualidade das palavras que é contrária a seu emprego no piorar. Existe como uma aura de adequação nas palavras que, paradoxalmente, é aquilo em que tomamos coragem para romper com a própria adequação, ou seja, para manter o rumo ao pior”.

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