Filo mantém qualidade na 36.ª edição

Londrina – A apresentação hoje à noite do espetáculo (C2H4)n da Verve Cia. de Dança, de Campo Mourão, encerra a programação do Festival Internacional de Londrina, o Filo 2003, que teve início no dia 9 e trouxe à cidade 16 grupos internacionais de 11 países, 14 nacionais e 12 locais. A julgar pela última semana de programação, acompanhada pela reportagem, a 36.ª edição do Filo manteve seu alto nível de qualidade. Entre os espetáculos internacionais, destacaram-se o inglês Bambi e o holandês Re: Frankenstein. Na programação brasileira, passaram por Londrina ótimas montagens que já fizeram temporada em São Paulo como Camaradas (SC), Anjo Duro (SP) e Bartolomeu, o Que Será Que Nele Deu? (SP).

Mas não seria justo falar sobre a programação do Filo sem destacar os chamados Projetos de Maio, iniciados há quatro anos com o intuito de propiciar a grupos geralmente excluídos dos eventos da chamada “alta cultura” a possibilidade de inserção, diálogo, expressão.

Nele se reúnem grupos de várias partes do Brasil ou da América Latina para realizar oficinas – seja de circo, grafite, corte e costura, malabarismo, poesia, mímica, rádio, dança ou teatro com moradores de assentamentos, presidiários, crianças de orfanato, deficientes, moradores de invasões ou mesmo de bairros da periferia. No fim de junho, são feitas apresentações gratuitas para a comunidade, forma de apresentar o resultado do trabalho.

Embora, nesses casos, importante seja mesmo o processo e não o resultado estético, já é possível perceber a evolução de alguns grupos, como o de detentos da Penitenciária Estadual de Londrina (PEL), que começaram há três anos fazendo uma peça curta e simples de Brecht sob a direção de Roberto Lage. Ano passado apresentaram uma divertida comédia medieval e, nesta edição, sob orientação de Alexandre Mendes, um monitor londrinense, criaram um espetáculo chamado A Espera, a partir da leitura de Esperando Godot, de Beckett. É apenas um exemplo, mas a mesma evolução pode ser detectada em outros grupos, como o de deficientes visuais, também nascidos nesses projetos cuja marca, rara nesses casos, é a permanência.

Novos projetos

E a cada ano surgem novos projetos que tendem a perdurar. Convidado pelo festival, o Centro Interativo do Circo, com sede na Fundição Progresso, na Lapa (RJ) e dirigido por Geraldinho Miranda, trouxe a Londrina Jeep do Rally Social Circo. Trata-se de um jeep montado cenograficamente para abrigar aparelhos de acrobacia, malabarismo, uma rádio, uma pequena biblioteca e oficina de grafite. Em Londrina, ganharam do festival o reforço de um ônibus/palco e ficaram uma semana em cada bairro da periferia. No bairro João Paz, a equipe de Geraldinho deu aulas de grafite, ensinou a movimentar e até criar malabares e, sobretudo, ofereceu diversão sadia às crianças. “O circo exige concentração, superação de desafios e por isso dá autoconfiança”, diz Miranda. Importante frisar que, durante todo o tempo, esse trabalho foi acompanhado por estagiários – estudantes da UEL e integrantes do Centro de Produtores Independentes de Arte e Cultura (Cepiac) uma ONG local. Assim, eles vão dar continuidade ao trabalho iniciado por Geraldinho Miranda e sua equipe. “Fomos tratados da mesma forma que a mais prestigiada companhia internacional”, diz Miranda. “Com projetos como esse Londrina ainda tem tempo de evitar que a violência chegue ao estágio que chegou no Rio”.

Coincidentemente, violência e opressão eram temas dos espetáculos Bambi e Re: Frankenstein, entre as melhores atrações internacionais. Além dos temas, essas duas montagens têm em comum a linguagem de bonecos, dirigida para adultos, de extrema sofisticação técnica e dramatúrgica. A violência da ambição humana detona a tragédia em Re: Frankenstein recriação da terrível história de Mary Shelley pelo holandês Neville Tranter.

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