Filme de George Clooney abre hoje Festival de Veneza

Antes de ver os filmes não dá para saber se Veneza, que começa hoje com “Tudo pelo Poder”, de George Clooney, conseguirá superar a magnífica safra do seu rival, Cannes, que apresentou duas obras-primas em concurso, “A Árvore da Vida”, de Terrence Malick, e “Melancolia”, de Lars von Trier. Mas que a 68.ª mostra veneziana, a mais antiga do mundo, promete, isso ninguém há de negar. Pelo menos é o que se pode deduzir pelos nomes respeitáveis que trazem seus novos filmes para o Lido.

Entre os mais notórios, podem-se citar David Cronenberg com “A Dangerous Method”, Abel Ferrara com “4:44 Last Day on Earth”, William Friedkin com “Killer Joe”, Philippe Garrel, com “Un Été Brulant”, Roman Polanski com “Carnage”, Aleksander Sokurov com “Faust”. Todos eles conhecidíssimos, ou premiados e membros do panteão do cinema de autor no mundo. Que mais Veneza poderia querer?

Talvez uma seleção italiana forte, mas aí talvez fosse pedir demais, pelo menos se levando em conta o que se tem visto nos últimos anos. Em todo caso, como esperar não custa, são três os concorrentes peninsulares este ano, dois deles pelo menos já conhecidos do cinéfilo mais atento: Cristina Comencini, que apresenta “Quando la Notte”, e Emmanuelle Crialese, com “Terraferma”. Fecha a trinca Gian Alfonso Pacinotti com “L’Ultimo Terrestre”.

Em falta de nomes fortes no presente, o cinema italiano se lembra de grifes do passado – como é o caso do grande Marco Bellocchio, que recebe um Leão de Ouro pela carreira das mãos de outro cineasta de mesmo porte, Bernardo Bertolucci. É, também, um mea culpa de Veneza, que não tem tratado Bellocchio como ele merece. Apresentando em 2003 seu maravilhoso “Bom Dia, Noite”, sobre os bastidores do caso Aldo Moro, perdeu para o russo “O Retorno”. Ano passado, Bellocchio esteve de novo no Lido mostrando, em seção paralela, todo o frescor de um filme intimista como “Sorelle Mai”, rodado com sua própria família, em sua cidade natal, Bobbio, na Emilia Romagna. Ninguém lhe deu muita bola.

No mais, a seleção de Veneza-68 apresenta o padrão clássico imposto pelo diretor da mostra Marco Muller desde que assumiu o cargo em 2004: ao lado da predominância europeia (afinal, trata-se de um festival europeu), Veneza terá muitos norte-americanos e muitos asiáticos. Os primeiros são tidos como fundamentais a qualquer festival, pois fornecem a indispensável aura hollywoodiana, mesmo que venham sob a forma do cinema independente. Os segundos fazem parte da cota particular do diretor, sinólogo de formação e apaixonado pelas coisas do Oriente. Muller está, há muitos anos, intimamente convencido de que a renovação cinematográfica virá da banda oriental e não da ocidental. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.