Robert de Niro e James Franco: dilema familiar.

São Paulo  – Michael Caton-Jones procura buscar na crônica da história ou do cotidiano uma base sólida para suas ficções.

Tem sido assim desde a estréia na direção, Escândalo (1989), inspirado no caso de amor entre um ministro de Estado e uma stripper, que chocou a opinião publica britânica e mundial dos anos 60. Foi assim com Memphis Belle – A Fortaleza Voadora (1990), a saga da tripulação de um bombardeiro inglês na 2.ª Guerra Mundial; com Rob Roy (1995), sobre o famoso herói escocês, e com O Chacal (1997), refilmagem do clássico de ação dirigido por Fred Zinnemann. Não poderia ser diferente com O Último Suspeito, tradução preguiçosa e pouco criativa para City by the Sea, que chega hoje aos cinemas.

O Último Suspeito é inspirado em reportagem da revista americana Esquire sobre um policial nova-iorquino, cujo pai havia sido executado no fim dos anos 50 e o filho acabara de ser preso por assassinato. No filme, Robert de Niro faz o papel do tira, Vincent LaMarca. Respeitado por sua experiência na delegacia de homicídios de Nova Jersey, ele vive uma espécie de isolamento seguro, longe das dificuldades do cotidiano. Namora ocasionalmente a vizinha do andar de baixo (Frances McDormand) e procura manter distância de sua história pregressa.

Tudo muda de figura quando seu filho, Joey (James Franco), um jovem viciado, passa a ser procurado pelo assassinato de um pequeno traficante. Na investigação, o parceiro de LaMarca, Reg (George Dzundza), acaba sendo morto e a suspeita recai mais uma vez sobre o rapaz. Desta vez, no entanto, com um policial no caixão, suas chances de se safar diminuem drasticamente. A tragédia e a entrada em cena da namorada do rapaz acabam motivando ainda mais uma tentativa de reparação.

Caton-Jones dispensa os detalhes macabros da história real e a transforma em uma parábola sobre a relação entre pai e filho. É o que distancia O Último Suspeito dos filmes policiais convencionais. Pouco importa a investigação, os procedimentos, o quebra-cabeças. O que interessa de verdade, mesmo quando o assunto tem a ver com tudo isso, é a relação entre as pessoas. Nesse sentido, o diretor demonstra um carinho todo especial pelos personagens, dando-lhes uma dimensão e uma profundidade, às vezes, maior até do que têm as pessoas que os inspiraram.

Isso está muito bem demonstrado na relação entre os personagens interpretados por De Niro e Frances McDormand. Ao mesmo tempo que existe entre os dois uma distância reguladora de liberdade, há também uma profunda relação de amizade, respeito e consideração. Quando ela fica sabendo de todo o passado do policial, da relação problemática com a ex-mulher e o filho, por um momento decide que quer manter distância. Mas quando encara a legítima preocupação dele, decide ajudá-lo fazendo com que se mexa. Parece algo trivial, quase comum na vida de todos, mas muito difícil de representar na tela. E Caton-Jones consegue extrair dignidade disso.

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