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Festival Jazz na Fábrica começa na próxima semana com Wallace Roney

“Não há nenhuma pergunta que tenham deixado de fazer a respeito de Miles Davis”, analisa Wallace Roney, em retrospecto. É a sua bênção e sua maldição. O único pupilo de Miles Davis, maior trompetista do jazz que já passou por este planeta, aprendeu os segredos do instrumento com aquele que revolucionou o gênero durante os seis últimos anos de vida dele. Sabe, como poucos, manejar o instrumento de sopro e improvisar diante do que está ao redor, mas também é preciso conviver com a lembrança constante da presença de Davis durante sua formação.

Roney, é bom dizer, não é muito de papo. É como se ele guardasse o fôlego para transformá-lo ao passar pelo seu trompete no som que tira o ouvinte do lugar-comum. Roney aprendeu com Davis como surpreender e mexer com o público que está ali querendo ser surpreendido – e isso é para poucos. É, por isso, uma grande oportunidade assisti-lo ao vivo, mais uma vez. Roney, com seu quinteto mais recente, formado por Eric Jeffrey, Allen (bateria), Curtis Leon Lundy (baixo), Victor Gould (piano) e Benjamin Solomon (saxofone), volta a São Paulo como uma das atrações do simpático festival Jazz na Fábrica, realizado entre os dias 11 e 28 de agosto, no Sesc Pompeia. Os ingressos online começaram a ser vendidos na quinta-feira, 4. Nas sedes do Sesc, as vendas iniciam nesta sexta-feira, 5.

Roney se apresenta na Comedoria (antiga Choperia) nos dias 11, 12 e 13, sempre às 21h30, com ingressos que vão de R$ 18 a R$ 60. Se, nas últimas passagens por aqui, o trompetista vinha com projetos que homenageavam o antigo mentor, agora ele promete envolver o público no seu trabalho solo. Understanding é o disco dele lançado em 2013 e seu título, cuja tradução livre é algo como “compreensão”, evidencia a proposta dele e de sua banda nesse projeto. Roney busca o entendimento entre banda e músicos. A sintonia perfeita de uma apresentação ao vivo. “Nunca sei dizer para onde um show nosso vai”, ele explica ao telefonem, falando de Nova York, onde mora. “Por isso, eu gosto de classificar a música que fazemos como inovadora.”

O Jazz na Fábrica deste ano se superou em pensar no jazz que saia da caixinha. Se Roney leva seu quinteto para lugares desconhecidos, Robert Glasper, pianista duas vezes vencedor do Grammy, levou suas harmonias para encontros com hip-hop. Aqui, Glasper vai se apresentar ao lado da banda brasileira Metal Abstrato e da cantora Tássia Reis. Eles se apresentam dias 20 e 21, às 21h30 e 19h30, respectivamente, também na Comedoria.

Ester Rada é a força de Nina Simone e outras grandes vozes femininas combinada com a musicalidade livre do oeste africano. Tem uma pureza pop desencontrada com o que o mainstream entende como pop. É dançante e leve. A cantora é colocada como integrante dessa nova safra do soul, mas também pode fugir para outras classificações. Ela faz uma apresentação única, com sua banda, na quinta-feira, 18, às 21h.

Outra atração imperdível do festival é o grupo liderado por Donny McCaslin. O saxofonista comandou a banda em Blackstar, o último disco lançado por David Bowie antes da sua morte. McCaslin também foi indicado três vezes para o Grammy e está prestes a lançar um novo disco, chamado Beyond Now.

Liberdade

Cada performance do quinteto liderado por Wallace Roney, garante ele, é diferente da outra. “Começamos com alguma canção, mas logo as coisas mudam. Vamos improvisando, saindo daquilo que está previsto no disco. E, assim, nós nos libertamos das amarras da música que nós mesmos criamos.”

Jazz, na fábrica ou em qualquer lugar, afinal, é a liberdade dos músicos para irem para onde a canção se apresentar. E, por vezes, convergir para a direção oposta. É, afinal, a liberdade total daqueles que estão acima do palco, em comunhão com seus instrumentos e público. “Tentamos ver o que as pessoas sentem e reagem. A nossa ideia é tentar fazer com que sejamos capazes de direcionar os sentimentos do público que está conosco. O que queremos, afinal, é dar a melhor experiência para aqueles que forem nos assistir.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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