Festival de Cinema, Vídeo e D-Cine ameaçado pela falta de verba

Se não conseguir a garantia de liberação de pelo menos 300 mil reais até amanhã, Cloris Ferreira pode suspender a sétima edição do Festival de Cinema, Vídeo e DCine de Curitiba, programada para acontecer de 19 a 24 de maio no Canal da Música. Sem o patrocínio da Copel, que nos últimos anos injetava 500 mil reais por intermédio da Lei Rouanet, a diretora-geral espera conseguir o apoio da Caixa Econômica Federal e/ou da Petrobras. Caso contrário, o evento pode sair só no final do ano. As oficinas, previstas para começar a partir deste final de semana, já foram adiadas para setembro.

“O festival sai de qualquer maneira, nem que seja só em setembro ou dezembro”, garante Cloris. “Mas, com a ajuda do governador Roberto Requião, que está intercedendo pessoalmente nas estatais, e a boa vontade demonstrada pelo ministro Gilberto Gil, estou bastante esperançosa que a gente consiga o mínimo necessário para realizar o festival na data marcada”.

Esse “mínimo necessário” somariam R$ 300 mil. “Não abro mão da qualidade da projeção, do som e da acomodação dos competidores e convidados. Nem que fique só a coluna dorsal do evento, e venha apenas o diretor e um ator de cada filme da Mostra Oficial…”, completa a diretora. “São 53 empregos diretos, 64 indiretos, muita gente envolvida, fornecedores que preciso pagar praticamente à vista… não posso perder a minha credibilidade”.

Vitrine maior do festival, a Mostra Oficial também sairia prejudicada. Seis longas-metragens, ainda inéditos no circuito comercial, integram a seleção: Amarelo Manga, do pernambucano Cláudio Assis, com Mateus Nachtergaele; As Três Marias, de Aloísio Abranches; Dois Perdidos em uma Noite Suja, de José Joffily; Celeste e Estrela, de Betse de Paula, com Ana Paula Arósio no elenco; Separações, de Domingos de Oliveira, e o aclamado Durval Discos, de Ana Muylaert.

De fato, a imagem do Festival de Curitiba vai ficar arranhada se houver qualquer mudança de planos. “Seria uma pena, está tudo pronto para fazermos um belo festival. O Fernando Meirelles [diretor de Cidade de Deus] já tinha dito que vinha, a Débora Falabella também confirmou, o Mateus Nachtergaele, a Ana Muylaert, além dos presidentes das grandes distribuidoras – que vêm para a mesa de distribuidores – e dos maiores críticos do País, que estarão no encontro de críticos”, enumera a organizadora. Sem falar nos competidores de todas as categorias: “Foram 380 inscritos e 75 selecionados, entre vídeo, DCine e filme de 16 e 35 mm”. completa.

Holofotes

Cloris acredita poder tirar algum proveito da visibilidade que o cinema nacional obteve esta semana, com a polêmica envolvendo o diretor Cacá Diegues, o ministro Gilberto Gil e o secretário de Comunicação do governo, Luiz Gushiken, sobre a política cultural do governo Lula. “Achei importantes os depoimentos do Cacá Diegues e do Barretão [o cineasta Luís Carlos Barreto]. Quem tem de decidir os critérios dos incentivos é o Gilberto Gil, e, sobre a ?contrapartida social?, ao realizar um projeto cultural sério você já dá acesso à população”, considera. “Acho que agora estamos falando a mesma língua”.

A diretora acrescenta que sempre houve essa “preocupação social” no Festival de Curitiba, e cita como exemplo o projeto de cinema para crianças carentes e os ingressos a 1 real – que são revertidos na sua maior parte para instituições que tratam de crianças aidéticas ou vítimas de insuficiência renal. “Mas agora a gente tem que pôr isso na primeira página”, observa. Cloris também adiantou que está pensando em aumentar o ingresso para 3 reais, “para evitar o tumulto que houve no ano passado e sobrar um pouco mais de dinheiro para essas instituições”.

Verba cultural está indefinida

A Copel informa, por meio da sua assessoria, que ainda está indefinida a verba que será disponibilizada para o patrocínio de projetos artísticos e culturais, pelas leis de incentivo, para 2003. Depois do balanço que apontou o prejuízo de 320 milhões de reais no último exercício, a empresa aguarda para as próximas semanas os novos números da Receita Federal, para saber a carga de impostos e o valor disponível. Mas adianta que possui mais de trinta projetos na fila. “Vamos estabelecer critérios justos para a divisão dessa verba, partindo da pertinência para a cultura paranaense”, conclui a direção da companhia.

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