Festival de Cinema sobrevive na adversidade

Entre mortos e feridos, em meio a uma pindaíba de dar dó, salvaram-se todos. O 7.º Festival de Cinema, Vídeo e DCine de Curitiba terminou sábado, coroando na principal categoria (filme em 35mm) a produção Tempo de Ira, das cariocas Marcelia Cartaxo e Gisela Maria Bezerra de Melo – as duas dividiram um automóvel zero quilômetro.

Os paulistas Edu Felistoque e Nereu Cerdeira, autores de Zagatti (vencedor na categoria Festival dos Festivais) e o paranaense Eduardo Sobrinho, de Ctrl+Z – Enquanto Houver Atalho (melhor vídeo) ganharam duas passagens aéreas para Chile ou Argentina. A produção paranaense faturou ainda os prêmios de melhor ficção e melhor direção em vídeo.

A câmera digital e o Troféu Pinhão foram para o diretor Fabiano Maciel (RJ), que concorreu com o DCine Vaidade. O Troféu Ruy Guerra, correspondente ao voto popular, ficou com o super-herói paranaense recrutado por Edson Takeuti, o Tako X, na animação O Ovo ou a Galinha -Uma Aventura do Gralha. Manifesto, de Marco Aurélio Jacob (PR), também recebeu menção honrosa.

Os jornalistas elegeram o filme A Deus Menino, de Beto Carminatti (PR). Águas de Romanza, de Gláucia Soares e Patrícia Baia (CE), levou menção honrosa. Também receberam o prêmio Aramis Millarch, da crítica, o vídeo Temporal, de Maria Continentino (RJ) e o supracitado DCine Vaidade, de Fabiano Maciel (RJ).

O Melhor Roteiro Paranaense premiado foi PAX, que será dirigido por Erico Beduschi e Paulo Munhoz, e produzido ao longo este ano. Eles receberam seis latas de negativo em 16mm da Kodak, R$ 8 mil em equipamento de iluminação e a revelação no Laboratório Casa Blanca.

Consolo

O paranaense Marcos Jorge, grande vencedor do ano passado com seis prêmios, por O Encontro, este ano teve que se contentar com “apenas” três troféus: o de melhor atriz, para Jeruza Franco, melhor direção e melhor filme de ficção, todos com Infinitamente Maio. O último dia teve a exibição do filme Separações, de Domingos de Oliveira, encerrando com dignidade um evento marcado pela incerteza. Cerca de 27 mil pessoas circularam pelas salas do Canal da Música nos seis dias do Festival, segundo a organização. Agora resta esperar pelas oficinas integradas, que foram transferidas para setembro.

Gus Van Sant ganha, Brasil volta sem nada

Cannes  – Deu zebra, ou melhor, deu outro bicho: Elefante, título do filme do norte-americano. Gus Van Sant, foi o vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes de 2003. Consagrado, além do prêmio principal, Van Sant levou também o troféu de direção.

O Grande Prêmio ficou com Uzak, do turco Nuri Bilge Ceylan, que também levou a Palma de interpretação masculina, dividida entre seus dois atores, Muzaffer Ozdemir e Mehmet Emin Toprak. As Invasões Bárbaras, do canadense Denys Arcand, ganhou o prêmio de roteiro e atriz (Marie-Josée Croze). O Prêmio do Júri foi para a iraniana Samira Makhmalbaf, com seu Às Cinco Horas da Tarde.

O brasileiro Carandiru nada recebeu. Pode se consolar com o favorito da crítica presente em Cannes, Dogville, de Lars von Trier, que também sai de mãos abanando. Outro peso pesado que não viu a cor do jogo foi Mystic River, de Clint Eastwood. E nenhum dos cinco longas-metragens franceses participantes do festival recebeu sequer uma menção.

De qualquer forma, o resultado reflete uma preocupação do júri: premiar filmes de temáticas importantes, tratadas com certa originalidade formal. O vencedor fala do misterioso despertar da violência em adolescentes que, em aparência, têm tudo na vida. Uzak é um belo estudo sobre a solidão na sociedade turca contemporânea. As Invasões Bárbaras fala dos sonhos perdidos de uma geração e Às Cinco Horas da Tarde debruça-se sobre o rescaldo cruel da guerra no Afeganistão.

Certo, nenhum dos filmes vencedores, nem mesmo Elefante, deixa de fazer uma crítica ao modo americano de vida. Esta foi a tônica de um festival politizado, que fazia força para não sê-lo. Mas a crítica mais contundente, a de Dogville, aquela sem nenhuma concessão, radical na forma como no conteúdo, inassimilável, esta foi ignorada, e talvez não por acaso. Brevemente se realiza em Evian, na França, a reunião do G-8, e é perceptível o desejo de que as feridas diplomáticas deixadas pela Guerra do Iraque rapidamente cicatrizem.

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