O Alma de Borracha: estréia de responsabilidade.

O quarteto curitibano Alma de Borracha resolveu encarar um desafio em sua estréia nos palcos, hoje às 21h e amanhã às 19h, no Teatro Paiol: a Suite para Flauta, revolucionária peça composta em 1970 pelo francês Claude Bolling, que causou sensação ao associar jazz com a música erudita. Os ingressos custam 10 e 5 reais.

“Já há algum tempo estava me propondo a interpretar esta fantasia musical francesa que, pela incrível sensibilidade do compositor, consegue instalar um jogo constante e elegante entre o fraseado particular da flauta clássica e o swing do trio de jazz”, conta o líder do quarteto, Marco Aurélio Koentopp. “É uma música ?híbrida?, ao transitar de forma tão fenomenal entre o erudito e o jazz”.

O concerto encerra com duas músicas brasileiras, uma de Tom Jobim – Wave – e a outra – Influência do Jazz -de Carlos Lyra. “São da fase da bossa-nova, e também representam uma mistura entre o jazz e o samba”, explica o músico. Da mesma forma, o quarteto Alma de Borracha também é uma mistura de influências, ao reunir músicos oriundos da música popular brasileira e erudita.

O nome “Alma de Borracha”, segundo Marco Aurélio, surgiu de uma música de Egberto Gismonti, “que não deixa de expressar nossa proposta: à palavra “alma” podemos associar a “essência”, assim como “borracha” dá a idéia de flexibilidade, ou seja, um trânsito mais livre no universo da música”.

A banda é formada por Marco Aurélio Koentopp (flauta) e Leonardo Gorosito (piano), ambos de um perfil mais erudito, e Paulo Bettega (baixo) e Gerson Nilo (bateria), com repertório mais expressivo em MPB. Para o pianista Leonardo, o mais jovem do grupo (19 anos), interpretar Suite para Flauta está sendo um dos maiores desafios de sua vida. “É uma suite que exige empenho do pianista”, afirma.

Contato

Antes de montar o espetáculo, Marco Aurélio navegou pelo site de Claude Bolling para pesquisar, e ficou tão interessado pelo trabalho dele que enviou um e-mail contando que pretendia apresentar sua composição em Curitiba. Para sua surpresa, o compositor francês respondeu num tom amistoso e coloquial, dizendo que se sentia lisonjeado e que tinha muita vontade de visitar o Brasil.

A Suite para Flauta e Piano Jazz Trio foi sucesso absoluto de crítica e público durante o final da década de 70, na Europa e nos Estados Unidos. Com a sua diversidade rítmica e lindas melodias, esta suite permanece viva entre os músicos, mas anda esquecida pelo público, justamente por falta de execuções. “É esta lacuna que o quarteto quer suprir”, garante o baterista Gerson.

A suite surgiu de um encontro entre o pianista de jazz Claude Bolling e um dos maiores flautistas de música erudita na época (1970), Jean Pierre Rampal. Ele teria dito para Claude: “Gosto muito de jazz e não tenho idéia de como tocá-lo, mas meu sonho é trabalhar com músicos de jazz. Escreve alguma coisa que fique no campo clássico para minha flauta, e que fique na linguagem jazzística para você”. O compositor respondeu: “Eu levei o pedido a sério, considerando-o como um verdadeiro desafio. Era uma aposta meio louca”.

Segundo a crítica francesa Stéphane Lerouge, hoje a Suite, que tem mais de 30 anos, é como uma moça que nunca ficará velha. “É, e permanecerá assim porque nunca carregará as marcas de uma época precisa ou de uma moda musical. Um trabalho de referência, que viaja no tempo, é jovem e livre, adotado por grupos, tocada em conservatórios. Em outras palavras tornou-se atemporal e universal”.

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